domingo, 15 de março de 2009

Sobre a coluna do Fernando Rodrigues, na Folha

Dentro do projeto da Folha de S.Paulo de contribuir para a eleição de José Serra em 2010 vale tudo. O foco principal é tentar passar a impressão que o país está mergulhado na crise, mas vendo que a popularidade de Lula só aumenta, e crescem as chances de Dilma chegar ao Planalto, eles atacam em todas as frentes.

A coluna do Fernando Rodrigues neste sábado é um bom exemplo disso. O Projeto de Lei, assinado pelo Lula e enviado ao Congresso Nacional, que modifica o Estatuto do Torcedor foi escolhido para ser o alvo das críticas.

Até aí, nada de mal. Há, na minha opinião, uma série de críticas a fazer ao projeto. A principal delas é por ele não prever o mesmo rigor nas punições a policiais, que vêm sendo tão responsáveis pela violência nos estádios quanto torcedores vândalos. Mas a coluna do Fernando Rodrigues não vai por aí. Ele prefere ver problema onde não há e faz ainda uma comparação absurda. Os absurdos são vários, aliás. Razão pela qual resolvi comentar o texto por trechos.

O stalinismo no futebol

O título é esse mesmo, mas não se assuste. O novo Estatuto do Torcedor não tem nada a ver com o regime ditatorial da antiga URSS.

BRASÍLIA - Um grande prazer nas manhãs de domingo da minha infância era quando meu pai decidia, de última hora, que iríamos a uma partida de futebol à tarde, no Morumbi. Esse tempo passou. Lula e seu ministro do Esporte, Orlando Silva, anunciaram ontem que só serão admitidos nos estádios em 2010 os torcedores previamente cadastrados e portadores de um documento de identificação específico para eventos esportivos.

Se a medida será eficaz ou não, sinceramente, não sei, mas ela não impede pai nenhum de surpreender o filho no domingo de manhã ao decidir lavá-lo ao estádio de futebol. Basta que antes ele tenha sido cadastrado.

A ideia é reduzir a criminalidade nos estádios. Mas, em vez de punir os vândalos, o governo socializou o problema. Pessoas de bem terão de se submeter ao incômodo processo de obter uma carteirinha. Não passou pela cabeça dos formuladores do governo que esse tipo de exigência fere o direito de ir e vir. A história é pródiga em exemplos dessa ordem. Na antiga União Soviética, os cidadãos eram obrigados a ter um passaporte interno. Só mudava de cidade quem tivesse autorização prévia de trabalho e moradia no local de destino.

Primeiro que eu nunca engoli esse conceito de “pessoa de bem”. Como ela seria? Mas não vou entrar nessa discussão. E se essa carteirinha fere o direito de ir e vir, o que dizer de todas as outras que temos que usar e portar: RG, CPF, carteira de motorista, carteira de estudante, entre várias outras. Sempre que entramos em um condomínio comercial, tiramos foto, mostramos a identidade. Eu, aliás, quando visitei a Redação da Folha e 2006, fiquei bastante tempo esperando na recepção desse jornal tirando foto, mostrando meu RG e esperando que me deixassem subir. O direito de ir e vir já está totalmente ferido. Tem gente que mal tem dinheiro para pagar ônibus ou metrô, e deixa de se locomover por causa disso. E o cara vai implicar com a carteirinha de torcedor. É mole?

O ministro Orlando Silva é do PC do B, partido cujo modelo de nação até recentemente era a Albânia. Também foi presidente da UNE, uma espécie de sindicato de ex-estudantes em atividade e berço dos "maníacos da carteirinha".

A UNE foi berço político de muita coisa, não só dos maníacos de carteirinha. Foi inclusive berço político do José Serra, que a Folha tenta eleger como presidente. E foi um importante foco de resistência da ditadura. Mas se a Folha chama de “ditabranda”, não dá pra esperar muita coisa. Aqui aproveito para comentar a comparação do projeto do Lula com o stalinismo. É no mínimo absurdo e irresponsável comparar um projeto que busca diminuir a violência com um regime ditatorial que matou milhões de pessoas. Ainda que seja pela burocracia, há outras instituições burocratas para fazer essa comparação, na verdade uma provocação.

Há soluções mais simples para combater a criminalidade nos estádios. Por exemplo, cadastrar vândalos (muitos são conhecidíssimos) e obrigá-los a ficar em delegacias nos dias e horários de jogos.

Pelo projeto, quem promover brigas ou portar objetos perigosos em estádios pode ser punido com um ou dois anos de prisão e multa. Se for réu primário, a pena pode ser convertida em banimento dos estádios por um período entre três meses e três anos. Acho que isso ele não leu.

Com a carteirinha do governo, já é possível imaginar o diálogo. "Vamos ao futebol hoje?", perguntará um amigo ao outro. E a resposta: "Não dá. Não sou cadastrado no sistema do Lula...". Turistas estrangeiros passeando pelo Rio e interessados em assistir a um Fla-Flu no Maracanã? Sem chances.

Nos últimos anos, no Brasil, 43 torcedores morreram em brigas entre torcidas ou com policiais. 25 só no Estado de São Paulo. E o cara está preocupado com os turistas estrangeiros que vão ao Maracanã. É mole? [2]

É o governo querendo resolver um problema e criando um ainda maior.

O sistema de cadastros de torcedores pode não servir para nada, mas não é um problema maior do que a violência nos estádios.

O consolo é saber que nada disso dará certo. Como sempre.

Urubu. Esse é do time dos que estão torcendo pra Brasil afundar na crise, e logo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Basta cumprir a lei, processando e prendendo os bandidos torcedores, os dirigentes e clubes que desrespeitam o estatuto do torcedor.

Anônimo disse...

Independentemente se o cadastro funcione ou não, a IMPUNIDADE é o grande vilão. Não há fiscalização, portanto, não há como punir. Se isso fosse levado mais a sério, não teríamos medo de ir aos estádios. E quanto ao jornalista-"politizado": -É um fanfarrão!! O dia em que ele souber mais sobre o Serra, ele poderia pedir desculpas.

Unknown disse...

A FOLHA SÓ PUBLICA, O QUE CONVEM, NÃO É NOVIDADE PARA NINGUEM QUE ELA ESTA DO LADO DO SERRA, ACHO , POREM,QUE ELA (FOLHA) DEVERIA ASSUMIR ESTA POSIÇÃO PUBLICAMENTE.
QUANTO AO CADASTRAMENTO, ACHO QUE NÃO RESOLVERÁ, POIS, O GRANDE PROBLEMA NESTE NOSSO PAÍS É A IMPUNIDADE.CLUBES, CARTOLAS, VEREADORES , DEPUTADOS E O PRÓPRIO PODER PÚBLICO PATROCINAM E USAM COMO MASSA DE MANOBRA AS TORCIDAS ORGANIZADAS, HAJA VISTA, O QUE ESTA ACONTECENDO COM O CARNAVAL, ONDE AS ORGANIZADAS TAMBEM VIRARAM ESCOLAS DE SAMBA E RECEBEM DINHEIRO PÚBLICO.

Pedro de Sousa disse...

Perfeito!