sexta-feira, 31 de julho de 2009

Conheça o perfil do torcedor organizado de SP

Um estudo do Grupo de Estudos e Pesquisas de Futebol da Unicamp, coordenado pela professora Heloisa Reis e divulgado recentemente, derruba a visão (que não é só do Flávio Prado) de que torcedores organizados são vagabundos, marginais, vadios e outros desses adjetivos quase sempre carregados de preconceito.


Para o estudo, que só será concluído em setembro, foram entrevistados 813 filiados da maior torcida organizada de cada um dos três grandes clubes da capital paulista – São Paulo, Corinthians e Palmeiras.


Seguem alguns dados coletados que traçam o perfil do torcedor organizado:


  • 61% dos torcedores organizados trabalham; 27% estudam
  • Apenas 9% dos entrevistados não informaram ocupação e 3% estão desempregados
  • 88% moram com a família original (pai e mãe)
  • 94% são solteiros
  • 62% são católicos
  • 40% vão ao estádio sempre e 45% dizem ir muito frequentemente, mesmo que a partida seja televisionada
  • Quando vão à arena, 52% o fazem pela emoção do estádio, 30% por amor ao time, 12% para torcer em grupo

A revista Carta Capital publicou em sua última edição uma reportagem sobre a pesquisa. Vale a pena lê-la. A matéria traz mais dados, além de uma entrevista com a professora Heloisa Reis e outros estudiosos do assunto. Para acessá-la, clique aqui.


Mas mais do que as entrevistas, o que me chamou atenção na matéria foram os comentários feitos a ela. Pincei dois comentários com visões diferentes sobre o assunto. Um é contra as torcidas organizadas e o outro é de um membro de um desses grupos (a julgar pelo slogan que deixa no fim, é da Gaviões da Fiel). Vale a leitura:


Hudson Miranda

"O estudo da Pesquisadora Heloisa Reis é interessante, e pelo que acompanho o futebol -mais de longe do que nos estádios-, parece ser fiel ao assunto, "Torcidas Organizadas". Fui muitas muitas vezes ao estádio, e algumas vezes comprar ingressos antecipados na porta do clube que torço. E é notório o domínio do território por parte de integrantes das organizadas, furam filas, fazem a famosa "panelinha" na boca do guiché, e tudo com a conivência do clube. Esses pontos negativos sobressaíram aos positivos, e me fizeram abandonar os estádios. Pois, se a organizada que leva a bandeira do meu clube não tem tolerância com nós, meros torcedores comuns, quanto mais com torcidas rivais. Sou contra organizadas!!!"


Thiago Christofolette Rosa

"Parabéns pela matéria, isso mostra que não somos marginais visto pelo lado da mídia, as mesma que aceitam a corrupção e não divulga que o melhor futebol do mundo tem uma federação de futebol que só pensa na em si própria e não no Futebol Brasileiro a maior paixão nacional, e fora o Continuísmo de seus representantes que grande parte lucram com os desvios de dinheiros de federações de futebol e Clubes, a mesma Mídia e federação que manda por um jogo de futebol as 22:00 que o jogo acaba as 24:00 sendo que a maior cidade do Bra$il a quarta maior do mundo deixa a sua população que já paga um passagem absurda sem Ônibus, Metro, Trem. Isso você coloca um clássico Corinthians e Palmeiras as 22:00 de Quarta-feira sendo que o estadio tenho 50.000.00 pessoas a maioria vem de transporte publico de distancias imagináveis, o jogo acaba 23:50 até sair do estadio 24:00 já não tem todas os itinerários não estão funcionando isso 1:00 já não tem mais nada só umas 10.000.00 pessoas na rua até as 4:30 a probabilidade de confusão e grande, esperando funcionar o transporte isso com fome, sono ainda vai trabalhar as 7:00 sendo que só vai chegar em casa 5:00 da Manhã, a violência vem de qual parte das pessoas que fazem do futebol o que querem. A violência hoje esta em toda parte da sociedade é mais fácil criticar a violência que e mostrada as vezes a custa de IBOPE do que propor uma debate amplo na sociedade sobre a violência. F requento estadio 10 anos sou de Torcida Organizada a 7 nunca briguei. LEALDADE HUMILDADE PROCEDIMENTO"

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Teremos que criar a “Casa do Sócio-Torcedor”?

Muitos veriam essa pergunta acima, em tom de brincadeira, como uma evolução do futebol brasileiro. Eu vejo de outra forma. A consolidação dos programas de sócio-torcedor entre os clubes do país representa uma vitória do projeto de elitização do futebol no Brasil.


O futebol pode continuar um esporte do povo nos botecos espalhados pelas ruas, nas discussões da segunda-feira, na família ligada na televisão. O estádio é cada vez mais, por incrível que pareça, um espaço das classes média e alta.


São vários os fatores que afastam a cada dia mais as classes D e E dos estádios. Primeiro, os preços dos ingressos são abusivos - em qualquer jogo da Série B, por exemplo, a entrada custa 20 reais. Além disso, a dificuldade de acesso aos estádios em transporte público e os horários das partidas no meio de semana obrigam o torcedor a ter carro para poder ver um jogo.


Os programas de sócio-torcedor, vistos pela cartolagem como a única saída para manter a saúde financeira dos clubes, são extremamente elitistas e segregacionistas, no mínimo. Privilegiam o torcedor de maior poder aquisitivo e vai tirando dos estádios o chamado “torcedor comum”.


A meta dos clubes, e isso é claro, é dispor a entrada aos jogos apenas aos torcedores que participarem do programa de fidelidade.


Segundo nota desta terça do Clube dos 13, entidade que reúne as 20 maiores agremiações do país, já há mais de 380 mil sócios-torcedores no Brasil. O líder é o Internacional, que possui 100,7 mil associados.


O Colorado é seguido por Grêmio (53 mil sócios), Corinthians (46 mil) e São Paulo (42 mil).


Vou postar abaixo o texto do Clube dos 13, que possui mais detalhes, e deixa claro esse projeto elitista.


Clubes brasileiros ultrapassam 380 mil sócios-torcedores

"Levantamento do Clube dos 13 revela que mais de 380 mil brasileiros já aderiram a pacotes de fidelização com seu time do coração. Os programas de sócio-torcedor, que tiveram sua gênese no país há pouco mais de uma década, proporcionam aos fãs facilidade de compra de ingressos e acesso aos estádios e receita garantida às agremiações.

O maior caso de sucesso das Américas é protagonizado pelo Internacional. Atualmente com 100,7 mil associados, o time gaúcho é o sexto colocado no mundo em número de sócios-torcedores. O líder é o Benfica, de Portugal, com 171 mil.

“A implantação do projeto de sócio-torcedor foi paulatina a partir de 2003, quando começamos a trabalhar o lado emocional do torcedor destacando a importância em se associar ao clube. Fizemos tudo isso ancorado em forte campanha de mídia via veículos convencionais, trabalho boca a boca, fidelização da carteira de forma intensa e premiação aos sócios com vantagens e benefícios que o torcedor comum não tem acesso”, explica Jorge Avancini, diretor de marketing do Internacional. Segundo ele, o programa garante arrecadação que possibilita um planejamento de longo prazo ao clube.

Além do Colorado, que subiu de 60 mil sócios-torcedores em janeiro deste ano para a marca recorde em julho, Grêmio, Corinthians e São Paulo, com 53 mil, 46 mil e 42 mil associados respectivamente, também apresentam uma rápida ascensão em seus números. O Cruzeiro segue os mesmos passos e já possui cerca de 18 mil filiados apenas um mês e meio após o lançamento do projeto Sócio do Futebol.

“Os sócios-torcedores são fundamentais na vida do São Paulo. É através do programa que podemos estar perto de nossos torcedores, além de proporcionar a eles uma forma de estarem perto de nós, contribuindo financeiramente com o clube, que, em contrapartida, oferece alguns benefícios como descontos em ingressos, mas principalmente, títulos”, destaca Rogê David, responsável pelo projeto no tricolor paulista.

Outros ótimos exemplos são confirmados com o Vasco da Gama (28,5 mil sócios-torcedores), Santos (25 mil), Atlético-PR (22,3 mil), Coritiba (18 mil), Vitória (6,7 mil), Goiás (5,3 mil), Fluminense (5 mil) e Guarani (4,1 mil).

Palmeiras, Botafogo, Bahia e Sport Recife estão reformulando seus programas e devem lançar em breve os novos projetos.

“Os programas de sócio-torcedor são modelos consolidados na Europa. Com o lançamento do projeto destes outros clubes no Brasil, não levaremos muito tempo para atingir a marca de meio milhão de sócios. Os números comprovam que os departamentos de marketing já atingiram resultados expressivos. Não tenho dúvidas que estamos no caminho certo”, afirma Fábio Koff, presidente do Clube dos 13."

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Atualização do Estatuto do Torcedor

Novo Estatuto do Torcedor deve virar lei até outubro, diz secretário

Elaine Patricia Cruz, da Agência Brasil

Os torcedores de futebol mais violentos deverão ser punidos em breve com penas alternativas. O governo espera que o novo Estatuto do Torcedor se torne lei até outubro próximo. A previsão é do secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Pedro Abramovay.

As novas regras preveem, por exemplo, uma pena alternativa para o torcedor violento, em que ele deverá prestar serviço comunitário, por até três anos, sempre nos dias e horários em que seu time estiver jogando. “Essa é uma maneira de tirar do estádio as pessoas que estão brigando ou atrapalhando”, afirmou.

Segundo ele, o Estatuto do Torcedor criado em 2003 sofreu alterações e já foi aprovado na Câmara dos Deputados e na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado. Falta ainda ser aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e no plenário pelos senadores, seguindo depois para sanção presidencial.

O secretário explicou que “o estatuto até falava em banimento de torcedores que causavam confusão, mas era muito difícil de efetivar isso”. O que está sendo criado, segundo ele, é um tipo penal contra tumulto e briga nos estádios.

“Precisamos do governo e do Judiciário, com leis mais efetivas e contundentes”, defendeu presidente do Conselho da Torcida Jovem do Flamengo e presidente da Federação das Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro, José Maria de Sá Freire. “Não é justo um cara ser pego brigando, com pau e pedra, lesionar, machucar e ferir gravemente várias pessoas e chegar num Juizado Especial Criminal, pagar dez cestas básicas e ser liberado.”

O novo Estatuto também estabelece a punição aos cambistas ou para as pessoas que participarem de um esquema de desvio de ingressos. “Hoje o policial não consegue nem apreender os ingressos dos cambistas porque não é crime, nem nada”, reclamou o secretario.

Outra idéia prevista é a de se aprimorar e estabelecer os juizados especiais em todos os estádios brasileiros. Segundo Abromovay, essa medida tem um efeito muito grande porque permite que se resolva o conflito no estádio e garante a presença do Estado no local.

Mas muitas propostas para se combater a violência não estão previstas somente no Estatuto do Torcedor. Além do governo, há também idéias sendo discutidas em vários setores da sociedade.

“As organizadas têm trabalhos na área esportiva e social, com milhares de jovens. Temos sedes recreativas e administrativas que podem ser pólos do governo para manter atividades sociais, esportivas, culturais e até de informática”, diz Freire, representante das torcidas do Rio de Janeiro.

O promotor de São Paulo Paulo Castilho também defende a ideia dos trabalhos de inclusão social com as organizadas. “É preciso que essa torcida organizada seja realmente organizada e que o Estado fiscalize e contribua para isso. Mas como fazer isso? Cadastrando, monitorando essa torcida, acompanhando num serviço de inteligência”, afirmou.

Para Castilho, o combate à violência no futebol também passa por uma maior especialização das polícias, reestruturação dos estádios, urbanização das cidades e também punição a jogadores e dirigentes de clubes que incitam a violência.

“É preciso aumentar, com ingressos promocionais, a ida de mulheres, famílias e de pessoas da terceira idade e de crianças aos estádios porque esses grupos naturalmente neutralizam e isolam esses grupos violentos”, apontou Maurício Murad, sociólogo e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Além de ações reeducativas, Murad acredita até em soluções mais repressivas e de curto prazo, como a proibição da venda de bebidas alcoólicas no estádios, o controle da venda dos ingressos e o aumento do transporte coletivo, principalmente no final das partidas.

“Chegar nos estádios, cada um chega mais ou menos numa hora. Mas, na saída, sai todo mundo junto. Aí mora o perigo. E quanto mais rápido a multidão escoar, menor é a possibilidade de violência, de roubo e de brigas”, avalia.

Para o ex-preparador físico João Paulo Medina, criador do projeto Universidade do Futebol, as soluções para o combate à violência no futebol passam também por um debate com o meio acadêmico. “Há uma certa resistência das pessoas mais pragmáticas que acham que a violência é só um problema de polícia. É um problema que extrapola sua dimensão policial”, afirma.

A solução, segundo ele, virá somente quando se pensar a violência no seu aspecto cultural, vinculada também a problemas como a desigualdade social. “As saídas vão surgir desses debates”, defendeu Medina.

domingo, 19 de julho de 2009

Brasil lidera ranking de mortes em confrontos no futebol, aponta estudo

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Nos últimos dez anos, 42 torcedores morreram em conflitos dentro, no entorno ou nos acessos aos estádios de futebol. Os dados foram contabilizados e estudados pelo sociólogo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Uerj) e da Universo, Maurício Murad, baseado em dados fornecidos por jornais, revistas e rádios das principais cidades do país entre os anos de 1999 e 2008. As informações foram mais tarde checados nos Institutos Médico Legais (IMLs) e nas delegacias de polícia das cidades onde as mortes ocorreram.

“Quando começamos a fazer o levantamento, o Brasil estava em terceiro lugar na comparação com outros países no número de óbitos. A ordem era Itália, Argentina e Brasil. Hoje, dez anos depois, o Brasil conquistou o primeiro lugar. É uma conquista trágica, perversa”, afirmou o professor, em entrevista à Agência Brasil.

Segundo ele, essa constatação deveria ser uma grande preocupação para um país que vai abrigar um grande evento como a Copa do Mundo de 2014. “Essa violência é uma preocupação para a Copa porque, de todos os problemas que a Fifa (Federação Internacional de Futebol) acompanha, e de tudo o que o caderno de exigências para a Copa do Mundo determina, a segurança pública é um dos principais. O problema da segurança pública é da maior importância para a Copa do Mundo.”

O fato do Brasil estar ocupando o trágico primeiro lugar no número de óbitos em conflitos de torcedores deve-se, segundo o professor, ao fato de não ter ocorrido aqui uma reação a esse tipo de violência, tal como fez a Itália, promovendo reformas na legislação até para punir os dirigentes que incitam a violência. “No Brasil, infelizmente, não houve reação satisfatória e consistente”, concluiu.

Um outro dado alarmante da pesquisa, segundo o sociólogo, é que a proporção dos óbitos vem aumentando nos últimos cinco anos. Se no período de dez anos a média é de 4,2 mortes a cada ano, no período entre 2004 e 2008 o número de mortos totaliza 28, dando uma média de 5,6 mortos por ano. A proporção é ainda bem maior se contabilizados apenas os dois últimos anos: 14 mortes ocorreram entre 2007 e 2008, uma média de sete mortos por ano.

“Significa não só que a soma dos óbitos é uma coisa preocupante, alarmante e que tem que ser vista, estudada e contida, como também que a proporção, nos últimos dez anos, é crescente e, portanto, muito mais preocupante”, definiu.

Mas a violência não é algo típico apenas do mundo esportivo. “Cresceu a violência no futebol porque cresceu a violência no país. E cresceu a violência no país porque a impunidade e a corrupção são cada vez maiores”, concluiu o sociólogo.

Além do crescimento do número de mortos em conflitos esportivos nos últimos anos, a pesquisa também verificou mudanças na forma dessa violência. Se antes as mortes ocorriam por quedas ou brigas, hoje elas ocorrem geralmente por armas de fogo.

Outro dado novo que foi observado nos últimos anos de pesquisa é a marcação dos conflitos e das tocaias contra grupos de torcedores rivais por meio da internet e do site de relacionamentos Orkut.

A maior parte dos mortos, de acordo com a pesquisa, era composta por jovens entre 14 e 25 anos, de classe baixa ou média baixa, com escolaridade até o ensino fundamental e, em geral, desempregado. E também foi constatado que, em grande parte, esses torcedores não eram ligados a práticas de violência.

“Em quase 80% dos óbitos, as pessoas não tinham nenhuma ligação com setores violentos ou delinquentes de torcidas organizadas. Apenas em 20% é que os óbitos eram de pessoas ligadas a grupos de vândalos", afirma Murad.

Segundo ele, o futebol reproduz de forma cruel e perversa a situação do país, onde a violência é crescente e vitimiza muito mais as pessoas não ligadas aos grupos delinquentes. "Uma morte já é gravíssima, mas a morte de um inocente, que não está ligado a práticas de violência e que foi ao estádio para se divertir e que foi com sua família para torcer pelo seu time é muito mais grave”, ressalta.

A pesquisa de Murad propõe como soluções de combate a essa violência nos esportes, no curto prazo, ações mais repressivas tais como a proibição da venda de bebidas alcóolicas nos estádios; o controle da venda de ingressos, proibindo a ação de cambistas; e o aumento da oferta do transporte coletivo principalmente na saída dos estádios.

“Chegar nos estádios, cada um chega mais ou menos numa hora, mas sair, sai todo mundo junto. Ali é que mora o perigo. E quanto mais rápido a multidão escoar, menor é a possibilidade de violência, de roubo e de brigas”, concluiu.

As ações mais efetivas para o combate à violência, no entanto, são as de médio e longo prazo. Aqui, Murad cita como soluções as campanhas educativas que possam voltar a atrair as famílias para os estádios. “É preciso aumentar, com ingressos promocionais, a ida de mulheres, famílias e de pessoas da terceira idade e de crianças aos estádios porque esses grupos naturalmente neutralizam e isolam esses grupos violentos”, afirmou.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Torcida do Bahia promove a campanha “Público Zero”


Uma forma de protesto interessante organizada pela torcida do Bahia. Poderia ser seguida pelas torcidas de outros clubes não só quando o time não anda bem, mas quando há abuso na cobrança de ingressos, falta de estrutura no estádio, jogos às 22hs...


Da Universidade do Futebol


"Ao contrário do que fazem a maioria das torcidas insatisfeitas com os seus times, fazendo protestos em frente às sedes dos clubes, pendurando faixas ao contrário, chegando até a casos de agressão física, os torcedores do Bahia, a seis rodadas sem vencer, decidiram fazer diferente.

Eles deram início a campanha “Público Zero” para as partidas que a equipe disputar no estádio de Pituaçu. Nenhuma torcida organizada assumiu a autoria da campanha, que já circula na internet por meio de uma corrente de e-mails com um cartaz que apresenta o seguinte texto:

"Nós torcedores do Bahia somos o maior patrimônio deste clube. E antes que seja tarde precisamos mobilizar toda a massa para mostrar que merecemos MAIS. Agora chegou a vez de fazermos eles sentirem vergonha e ver o quanto somos importantes. Bahia x Vasco será a oportunidade de mostrarmos toda a nossa indignação e exigirmos mudanças urgentes, desde jogadores até a diretoria. NÃO vá a Pituaçu no dia 25/07, assim transmitiremos a eles um pouco da humilhação que estamos passando. É hora de dar um apito final nessa situação".

Na prática, o boicote dos torcedores aos jogos do Bahia já começou, uma vez que o público em Pituaçu vem caindo gradativamente. Para se ter noção da queda de público, no dia 6 de junho, 13.196 torcedores assistiram ao jogo contra o ABC. Já na última terça-feira apenas 4.717 torcedores pagaram ingresso para ver a partida contra o Bragantino.

Um protesto semelhante aconteceu em 2007, quando o Bahia não conseguiu o acesso para a série B do Campeonato Brasileiro. Embora alguns torcedores se concentrassem do lado de fora do estádio, o movimento não teve sucesso pois o Governo do Estado realizava a campanha "Sua nota é um show", que possibilitava ao torcedor trocar 10 notas ou cupons fiscais por um ingresso."

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Artigo: “Violência no futebol: quando as causas vão ser investigadas?”

Publico abaixo artigo criado em conjunto pelos membros do Grupo de Estudos e Pesquisas de Futebol da Faculdade de Educação Física da Unicamp. Foi enviado a mim pela professora Heloisa Reis, uma das maiores autoridades do país para falar sobre políticas de prevenção à violência em estádios, e uma das autoras do texto. A própria professora me pediu que veiculasse este artigo, publicado primeiro pelo Estadão. Confira também entrevista que ela deu à Casa do Torcedor há alguns meses sobre o tema violência no futebol.


Violência no futebol: quando as causas vão ser investigadas?

GEF*

"Mortes relacionadas ao futebol brasileiro reacendem a discussão em torno da violência no esporte. Normalmente declarações precipitadas de autoridades públicas, assim como informações desencontradas e incoerentes veiculadas pela imprensa contribuem para a formulação de "soluções mágicas", mas que poderão comprovar-se ineficazes, dado que não consideram a amplitude e a importância do fenômeno.

Em um primeiro momento, consideramos ser fundamental a retomada dos trabalhos da Comissão Nacional de Prevenção da Violência nos Espetáculos Esportivos pelos Ministérios do Esporte e da Justiça e a criação de colegiados similares nos estados, que tenham a atribuição de tratar o tema com o devido cuidado e de trazer o poder público para o cerne da discussão. Há a necessidade, também urgente, de atualização da legislação específica para o esporte, como o Estatuto do Torcedor. A tarefa é especialmente oportuna neste momento, dado que o tema está sendo discutido no Senado. Alguns pontos importantes foram acrescentados à lei, mas outros, como a melhoria da infraestrutura dos estádios, ainda não foram contemplados.

Para que as atividades sejam efetivas e contínuas, é preciso incentivar e assegurar a participação, nas referidas comissões, de representantes de diferentes esferas da sociedade (governo, entidades esportivas, torcidas organizadas, imprensa e estudiosos), de maneira a enriquecer e ampliar o enfoque das análises. Da mesma forma, ainda verificamos a urgência da criação de uma corporação de segurança especializada em eventos esportivos, pois é notório que o despreparo dos atuais agentes públicos, e o tratamento por eles conferido aos torcedores - organizados ou não -, estão entre as principais causas dos conflitos violentos.

A atuação dos meios de comunicação em relação ao tema da violência no meio esportivo é outro aspecto que deve ser repensado. A armadilha do crédito excessivo às versões oficiais e a demora ou descaso ao ouvir os torcedores presentes na cena do conflito contribuem para a prevalência de uma visão homogeneizada, que, por estar distante dos fatos, frequentemente não consegue absorver as contradições e especificidades da relação entre torcedores. Assim, a informação que chega ao cidadão, ao invés de oferecer um panorama da situação, tende a reforçar preconceitos.

Algumas propostas apresentadas no "calor dos fatos", como a realização de partidas com uma única torcida, denunciam a incapacidade do Estado em prover segurança aos cidadãos. São recursos paliativos.

As propostas de ações para prevenção da violência no meio esportivo não têm o poder de tornar a assistência do esporte instantaneamente pacífica, mas espera-se respostas consequentes a episódios de violência em dias de jogos com uma apuração de forma isenta e cujos envolvidos sendo julgados e punidos dentro dos limites legais, de acordo com a participação de cada um.

Encontra bodes expiatórios, para dar uma resposta rápida à sociedade e acalmar os ânimos da opinião pública pode trazer sensação de conforto ou dar a ideia de que estamos sendo protegidos, mas esse tipo de "saída fácil" apenas acrescenta mais pólvora a um barril que permanece pronto para explodir outras vezes. Vale reforçar, portanto, que o assunto da violência no futebol é complexo e merece discussões intensas e urgentes. Nesse sentido, a união de esforços é o modelo mais indicado para a formulação de medidas eficazes a curto, médio e longo prazos.

*GEF Grupo de Estudos e Pesquisas de Futebol da Faculdade de Educação Física da Unicamp”

quarta-feira, 15 de julho de 2009

“Até parece que os sócios são melhores do que a gente”

Vi essa frase acima, do título, em um tópico criado nesses últimos dias em uma comunidade bastante ativa do Cruzeiro no Orkut. Ela simboliza bem um processo de elitização do futebol brasileiro, com o crescimento dos programas de sócio-torcedor.


Dos 64.800 ingressos destinados à final da Libertadores entre Cruzeiro X Estudiantes, 20 mil ficaram com os sócios do futebol, 8 mil com os donos de um cartão chamado papa-filas e 2 mil com os camarotes dos patrocinadores. Soma-se a isso 3 mil entradas vendidas em La Plata para torcedores do clube argentino.


Ou seja, dos 64.800 ingressos, só 31.800 ficaram para o restante da torcida do Cruzeiro, a imensa maioria que não tem condições de participar de programas de fidelidade e que teve que dormir na fila desde o fim de semana para lutar por ingressos que, em grande parte, ficaram nas mãos de cambistas.


Veja só: esses 31.800 ingressos teriam sido vendidos em apenas 2 horas. Algo no mínimo estranho. Não é à toa que no mesmo tópico do Orkut em que o torcedor questionou se achavam que os sócios eram melhores do que eles, a grande maioria dos internautas não poupou críticas aos cambistas, que estão faturando alto com essa decisão.


Mas como os cambistas conseguiram tantos ingressos se bem antes de serem abertas as bilheterias de venda já havia filas quilométricas? Talvez os Perrelas tenham a resposta.

sábado, 11 de julho de 2009

Ingressos mais caros para a final entre Cruzeiro x Estudiantes


Pra variar, o torcedor que acompanhou a trajetória inteira do Cruzeiro na Libertadores e em outros campeonatos vai ter que pagar mais caro para ver o ápice de toda essa campanha. Isso se não quiser ficar no espaço destinado aos mais pobres, a geral. E ainda dizem que o futebol é capaz de unir ricos e pobres na hora do gol. Claro que não, cada um fica em uma parte do estádio.


Veja abaixo os novos preços dos ingressos para a final entre Cruzeiro e Estudiantes, quarta-feira, às 21h50, no Mineirão. As informações são do site oficial do Cruzeiro, com texto de João Marcos Dias.


“A diretoria celeste fixou nesta sexta-feira, em reunião na Sede da Federação Mineira de Futebol (FMF), os preços dos ingressos da partida da próxima quarta-feira, às 21h 50, contra o Estudiantes, pela final da Copa Santander Libertadores. Os 64.800 bilhetes começam a ser vendidos na segunda-feira e têm desconto se comprados com antecedência.


Até a terça-feira, os preços são os seguintes: geral (R$ 15), anel inferior (R$ 50); cadeira superior lateral (R$ 80); cadeira superior central (R$ 100) e cadeira especial (R$ 150). Estudantes, menores de 12 anos e maiores de 60 anos pagam a metade do preço em todos os casos.


Nota do blog: até a semifinal contra o Grêmio, os ingressos da arquibancada custavam entre R$ 40 e 50, e a cadeira especial custava R$ 90,00.


O torcedor não encontrará nas bilheterias os ingressos de cadeira superior lateral dos portões 3 e 6, setor localizado à direita das cabines de rádio e TV. Eles estão reservados aos Sócios do Futebol. O cartão daqueles que aderiram ao programa deve ser apresentado juntamente com o boleto do mês de julho quitado e a carteira de identidade.


Na segunda e na terça-feira, os ingressos serão disponibilizados de 9h às 17h, no Mineirão (av. Abraão Caram, 1.000), na Sede Campestre (rua das Canárias, 254, Pampulha), no Ginásio do Barro Preto (rua Ouro Preto s/n) e na Loja Cruzeiro Mania do Barreiro (av. Sinfrônio Brochado, 125). Na Loja Cruzeiro Mania da Savassi (av. do Contorno, 6.605), o horário é de 10h às 17h.


Além de documento com foto, os estudantes da rede pública de ensino devem apresentar o comprovante de matrícula no ato da compra e na entrada do estádio. Os que estudarem em colégios particulares têm de levar o comprovante de pagamento da mensalidade e a carteira de identidade. Menores de 12 e maiores de 60 anos precisam portar a identidade.


Na quarta-feira, os bilhetes sofrem aumento, e passam a custar: geral (R$ 20), anel inferior (R$ 70); cadeira superior lateral (R$ 100); cadeira superior central (R$ 120) e cadeira especial (R$ 170). Estudantes, menores de 12 anos e maiores de 60 anos pagam a metade.


No dia da partida, a venda acontecerá de 9h às 17h na Sede Campestre, no Ginásio do Barro Preto e na Loja Cruzeiro Mania do Barreiro. Na Loja Cruzeiro Mania do Barreiro, as bilheterias funcionam de 10h às 17h. Os bilhetes serão disponibilizados no Mineirão de 9h às 14h. Não haverá venda no estádio no momento da partida.”

Os portões 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 7A, 8, 9, 10, 11, 12, 13 e 14 serão abertos às 19h. Serão disponibilizados 35 ônibus especiais que saem do tradicional ponto da rua Rio Grande do Sul com Tupis a partir das 18h 30. Os ingressos para a torcida do Estudiantes serão vendidos na Argentina. Os visitantes entrarão no estádio pelo acesso 13."

terça-feira, 7 de julho de 2009

Clássico-Rei, torcedor-plebeu

No último sábado, Ceará e Fortaleza se enfrentaram em partida válida pela Série B do Campeonato Brasileiro. O Clássico-Rei, como é alcunhado o duelo entre as equipes mais tradicionais do Estado, terminou empatado sem gols e manteve ambos em situação ruim na tabela da competição nacional.

A convite da TV O Povo, emissora local, o advogado Hércules Amaral, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos do Consumidor da OAB/CE, esteve no estádio Castelão e, como esperado, constatou mais de 20 irregularidades.

Abaixo, veja o vídeo da reportagem publicada nesta segunda-feira, expondo as deficiências do local que está indicado como sede da capital cearense para a Copa do Mundo de 2014. E como sofre o torcedor...

domingo, 5 de julho de 2009

Quando o estádio só deixa más lembranças

Veja relatos sobre o conflito entre Brigada Militar e torcedores do Grêmio durante o início do jogo entre a equipe gaúcha e o Cruzeiro, pela Libertadores, no Olímpico, na última quinta.

A reportagem é do jornal Zero Hora.

Torcedores relatam drama vivido no Estádio Olímpico

Carlos Guilherme Ferreira

"Enquanto a bola rolava para a segunda partida entre Grêmio e Cruzeiro, pelas semifinais da Copa Libertadores da América, torcedores entravam em conflito com a Brigada Militar na tentativa de entrar para acompanhar o jogo. Conheça três casos de pessoas que passaram pelo drama na noite de quinta-feira.

Renan apanhou na cabeça

Para muitos torcedores do Grêmio, a noite da derrota para o Cruzeiro foi inesquecível _ no pior sentido possível. Devido à ação enérgica da Brigada Militar (BM), houve gente como o estudante Renan Zucatti, 22 anos, que acabou no HPS. Ele não viu o jogo e ainda teve de ferimentos no braço, que está enfaixado, e na cabeça.

– Depois dessa, não voltou mais ao Olímpico tão cedo – prometeu.

Renan foi agredido em frente ao portão 13, por volta de 21h15min. Estava na fila para entrar e acabou empurrado pela multidão no momento em que começou a ação da BM e o portão foi fechado. Se viu diante dos escudos dos policiais e levantou os braços, em atitude repetida pelo irmão que o acompanhava. De nada adiantou: sofreu três pauladas de cassetete, a última na cabeça, que o derrubou.

O torcedor conta que sequer tentou perguntar a alguém do Grêmio o que estava acontecendo, por medo de novas agressões. Tentou ir ao posto policial no estádio, mas desistiu. Aí, foi ao HPS.

Fernando viu crianças chorando

O sócio Fernando Weschenfelder, 28 anos, conta que ouviu os policiais gritarem "lotou, lotou" em frente ao portão 5. Também por volta das 21h15min, afirma que a polícia dizia que o fechamento do portão era ordem da direção. Isso até aparecer a cavalaria.

– A torcida corria em direção aos carros para tentar se proteger. Havia mulheres e crianças chorando. Foi uma cena de terror – descreveu.

Fernando conseguiu entrar no estádio pouco antes do segundo gol do Cruzeiro, mas antes afirma ter visto um policial identificado como Dione atacando diversos torcedores com pauladas na cabeça. Houve uso de espadas, gás de pimenta e cassetetes. Também deboche, garantiu:

– Eles falavam: "Já tão perdendo e querem entrar. Vão para casa!".

Fernando planeja deixar de ser sócio do Grêmio.

Samuel acabou preso

Samuel dos Reis, 24 anos, de Novo Hamburgo, passou o primeiro tempo inteiro na cela do posto de triagem do Olímpico. Isto porque, afirma, pediu a três brigadianos que não agredissem uma menina.

– Me pegaram pelo braço e me levaram para uma cela. Disseram: "Fica aí, mofando" – contou.

Sócio, o torcedor alega que em nenhum momento houve justificativa para a prisão, e que os policiais que cuidavam da cela também desconheciam o motivo. Só aconteceu liberação porque Samuel insistiu na argumentação.

Antes da prisão, ele caminhou repetidas vezes entre os portões 10 e 16. Viu cenas de agressão e de torcedores pedindo para não apanhar, sem sucesso."

Mande um cartão vermelho para o racismo

Aproveitando os recentes posts que comentam o racismo no futebol, tanto entre jogadores e entre torcedores, aconselho os leitores da Casa do Torcedor a conhecerem o projeto Mande um cartão vermelho para o racismo. Trata-se de uma iniciativa da campanha Diálogos contra o racismo, do Ibase.

O projeto tem como objetivo combater o racismo no futebol, exigindo punições mais rigorosas para os casos de discriminação racial ocorridos no esporte, tanto dentro como fora de campo.

O site www.racismonofutebol.org.br traz ainda notícias e artigos sobre o assunto, trazendo à tona muitos casos que não são revelados na grande mídia.

E para aqueles que acham que se queixar de uma ofensa racista, como fez Elicarlos, é frescura, deixo a pergunta que abre o manifesto do projeto:

"Como você se sentiria se fosse xingado de "macaco" em seu local de trabalho, pelo fato de ser negro?"

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Racismo no Olímpico – Parte II

Na semana passada comentei aqui um caso de racismo no estádio Olímpico em Porto Alegre. Na ocasião, um torcedor chamou a polícia após sofrer ataques racistas de um outro torcedor gremista em uma discussão, durante a partida entre Grêmio e Goiás, pelo Brasileiro.

Nos comentários, um leitor postou anonimamente:

“Imagina se em cada greNAL os torcedores do INTER fosse chamar a polícia por sofrer ofenças racistas? Não haveria mais torcedores do gfpa nos estádios(se a lei fosse cumprida).Um cantiga "inocente" muito conhecida diz:"CHORA MACACO IMUNDO que nunca ganhou de ninguem...."

Logo abaixo, respondi:

“O fato de as ofensas racistas serem comuns no Olímpico não diminui o crime de racismo cometido pelo torcedor. E se em cada Gre-Nal os torcedores do Inter denunciassem esses casos de racismo, não conviveríamos no futuro de forma passiva com tamanho preconceito e discriminação.”

Pois bem, nesta quinta-feira, durante a partida entre Grêmio e Cruzeiro, o racismo manifestou-se novamente no Olímpico. Torcedores tricolores imitaram som de macaco para ofenderem o zagueiro Leonardo Silva e Elicarlos. Este último, aliás, havia acusado o atacante argentino Maxi López de racismo no primeiro jogo da semifinal.

O presidente gremista Duda Kroeff classificou como lamentável o ato de alguns torcedores e disse que vai tentar identificá-los para bani-los do Olímpico. Só que a diretoria do Grêmio, alguns jogadores e o próprio técnico Paulo Autuori são de certa forma responsáveis por esse ato de hostilidade contra os atletas cruzeirenses.

Depois do episódio envolvendo Maxi López e Elicarlos, todos eles se prontificaram a defender o argentino e tentar transferir a culpa do ocorrido para o Cruzeiro. Isso sem falar nas declarações irresponsáveis de Souza (“futebol é para homem”) e de Autuori (“não existe racismo no futebol”).

Nada tira a culpa dos torcedores racistas que imitaram macacos no Olímpico. Se identificados, eles devem sofrer punições severas, como prevê nossa Constituição. Mas pessoas que têm o poder da palavra no futebol e o usam para negar a existência do racismo ou desqualificar essas denúncias de preconceito, contribuem consideravelmente para a permanência desse mal que aflige a sociedade brasileira, dentro e fora dos estádios.