terça-feira, 12 de maio de 2009

Arenas = adeus torcidas organizadas?

Manutenção de torcidas organizadas em modelos de arena está condicionada a adaptação cultural

Dirigentes veem impossibilidade de adequar espaço específico a grupos majoritários

Da Universidade do Futebol

É senso comum: há uma clara marginalização por parte da grande imprensa dos movimentos de torcidas organizadas. Em se colocando numa balança os prós e contras desses grupos, a queda é para o último. Motivo pelo qual, pelo menos oficialmente, o “privilégio” é do torcedor-consumidor “comum”, ainda mais em tempo de construção espaços modernos e cuja funcionalidade é mais ampla.

“Não há espaço para a organizada. Ela será minha convidada, mas ficará sentada. Não há condições de deixar um espaço com cimento, por exemplo. É uma questão cultural difícil de superar e que tem de ser lidada ao longo do tempo”, afirmou Vicente Criscio, diretor de planejamento do Palmeiras

A referência do cartola alviverde é a uma conversa que chegou a ter com alguns integrantes de uma das “facções” (palavra geralmente usada com sentido pejorativo para indicar essas instituições). Eles teriam sugerido a manutenção de uma parte da Arena Palestra Itália, projeto de revitalização do atual estádio do Parque Antarctica, sem qualquer tipo de cadeira ou assento, para que o grupo sustentasse suas características de assistir à partida em pé, movimentando-se e pulando, sem deteriorar a estrutura concebida. Acesso negado.

Situação parecida passou a direção do Atlético-PR. A principal torcida organizada do clube rubronegro, conhecido como “Os Fanáticos”, paga para entrar – anteriormente, havia o tradicional “repasse” de bilhetes. A partir do 1999, iniciou-se a venda de carnê de ingressos, mas a agremiação nunca havia conseguido superar a marca dos três mil. E o sonho de ter no fluxo do caixa tudo vendido tornou-se realidade para esta temporada.

“Mudamos o nome para sócio-torcedor, por mês, e hoje não há mais bilhetes à venda. O estádio inteiro está na mão dos sócios, e você precisa entrar na fila para se tornar um. Mudamos o perfil do frequentador da Arena”, explicou Mauro Holzman, ex-diretor de marketing do Atlético-PR e que esteve envolvido na concepção da Kyocera Arena, na Baixada.

No ano passado, o Botafogo findou esse tipo de interação e anunciou o fim das facilidades na venda de ingressos para essas associações. Todos os simpatizantes do Botafogo, desde então, pagam o mesmo valor pelo bilhete de entrada nos jogos do time.

Fúria Jovem, Torcida Jovem do Botafogo, Botachopp, entre outras, tinham direito a comprar ingressos pela metade do preço, baseado em acordo firmado com as diretorias passadas em General Severiano.

“Não tem porque beneficiar um determinado grupo. Se pudesse fazer isso com todos, tudo bem, mas não tem como. Não é justo eu dar facilidades para uma minoria”, declarou Bebeto de Freitas, então presidente da agremiação carioca.

“Já damos um monte de coisas boas aos torcedores. Sistema de policiamento reforçado, transporte, ingresso pela internet, e ainda querem isso? Não acho isso correto. Eu mesmo sempre paguei pelo meu bilhete, fui lá na arquibancada e sofri junto com todo mundo”, completou, enaltecendo a qualidade do Engenhão, palco do Bota quando atua como anfitrião.

Participantes do debate “Os impactos econômico-sociais e as oportunidades de negócios da Copa do Mundo de 2014”, realizado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), também comentaram sobre um outro ponto que causa complicações ao rendimento via bilheteria: a meia-entrada.

“O índice [de meia entrada] está diminuindo no Palmeiras. O torcedor quer pagar menos, mas assistir a Palmeiras e Boca Juniors na final da Libertadores com conforto e pagar o que pagava. Não vai pagar mais”, avisou Criscio.

Diferentemente do rival paulista, o Atlético-PR não é um clube social – toda essa área foi vendida e o associado só se utiliza do moderno estádio, levantado com base no caderno de encargos da Fifa do ano de 1997. Mas tem de reparar “problemas” nessa esfera que envolve estudantes, aposentados e outros beneficiados.

Na avaliação de Holzman, para um crescimento conjunto dos clubes, há necessidade até de um posicionamento mais crítico em relação à mídia e ao investimento em marketing esportivo. É o caso da Globo, por exemplo, “ignorando” a empresa de manuseio de documentos digitais que dá o nome à famosa Arena da Baixada.

Negócios à parte, para não repetir 2002 e de acordo com as limitações e particularidades culturais do país, o Comitê Organizador da Copa-2014, em conjunto com os clubes, tem de planejar com correção o pontapé inicial em novas obras. Do contrário, elefantes brancos.

“Japão e Coréia foi a Copa de vaidades. Na maioria dos estádios do Japão acontecem poucos eventos. Construíram dez novos, usaram apenas oito, e eles estão com alguns problemas lá, em um país riquíssimo. Teremos uma competição mais tranquila, certamente”, previu Holzman.

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