terça-feira, 31 de março de 2009

Superlotação e tumulto no estádio Godofredo Cruz, em Campos-RJ

Matéria sobre confusão momentos antes da partida entre Flamengo e Americano, nesta terça, em Campos, pelo Estadual do Rio.

Do Globoesporte.com

“A história desenhada desde o início do dia teve um fim óbvio nesta terça-feira à noite, no Godofredo Cruz, em Campos. Diante da venda de cerca dez mil ingressos para o jogo entre Americano e Flamengo, mesmo com a capacidade reduzida por ordem da Defesa Civil, muito torcedores tiveram dificuldades para entrar no estádio e causaram um pequeno tumulto.

Quando a partida teve início, a confusão ainda era grande nos arredores e muita gente perdeu os minutos iniciais do duelo. Entre 100 e 200 torcedores, no entanto, seguiram fora do estádio até o fim da primeira etapa e só conseguiram entrar perto do intervalo após muito protesto.

Diante da lotação máxima, eles foram remanejados para a área coberta, destinada aos torcedores do Americano. O problema é que muitos deles vestiam camisas rubro-negras.”

Observação: Foram disponibilizados 9000 ingressos para a partida, conforme determinação de Defesa Civil, que reduziu a capacidade do estádio por medidas de segurança.

Mas como todas as 9000 entradas foram vendidas antecipadamente na segunda, nesta terça, em uma atitude irresponsável, a diretoria do Americano, na figura de seu presidente César Gama, disponibilizou uma carga de 900 bilhetes e, em seguida, de mais 1200 ingressos para os torcedores. O resultado da superlotação foi a confusão retratada na notícia reproduzida acima.

Nessa horas, nunca é demais consultar o Estatuto do Torcedor, que prevê punição rigorosa para esse tipo de caso. Veja abaixo o artigo 23 do Capítulo V do Estatuto, que dispõe sobre Ingressos.

Capítulo V
Dos Ingressos


Art. 23. A entidade responsável pela organização da competição apresentará ao Ministério Público dos Estados e do Distrito Federal, previamente à sua realização, os laudos técnicos expedidos pelos órgãos e autoridades competentes pela vistoria das condições de segurança dos estádios a serem utilizados na competição.
§ 1o Os laudos atestarão a real capacidade de público dos estádios, bem como suas condições de segurança.
§ 2o Perderá o mando de jogo por, no mínimo, seis meses, sem prejuízo das demais sanções cabíveis, a entidade de prática desportiva detentora do mando do jogo em que:
I - tenha sido colocado à venda número de ingressos maior do que a capacidade de público do estádio; ou
II - tenham entrado pessoas em número maior do que a capacidade de público do estádio.

Campinense vende pacote de ingressos para jogos em estádio sem condições de sediar Série B

Logo depois de divulgada a tabela da Série B do Campeonato Brasileiro deste ano, o Campinense-PB lançou a venda do pacote de ingressos para o torcedor que quiser pagar antecipadamente pelas entradas de todas as 19 partidas do clube em casa na competição. São R$ 380,00 para a arquibancada e R$ 190,00 para a geral.

Até aí tudo bem, cada vez mais os clubes vêm adotando essa prática. O problema é que o torcedor que comprar o pacote não pode ainda ter certeza de onde serão os jogos os quais ele está pagando pra ver. O estádio Amigão, de Campina Grande, onde o Campinense manda seus jogos, não oferece condições de sediar partidas da segunda divisão nacional e pode inclusive ser interditado.

A Câmara Municipal de Campina Grande divulgou nesta terça um relatório de inspeção do Amigão. Uma das conclusões do documento diz: “O estádio Ernany Sátiro (Amigão) encontra-se com diversas dificuldades estruturais e de funcionalidade, estando, portanto, com debilidades para uma boa prática esportiva e contrária ao atendimento cidadão que merecem os torcedores paraibanos e visitantes daquela praça esportiva”.

No relatório, pede-se que a curto prazo seja tomada uma série de medidas para que a Arena esteja adequada ao Estatuto do Torcedor e ao regulamento da Série B, como: melhoria dos banheiros, ampliação do número de portões de saída, implementação de circuito interno de câmeras de segurança, aquisição de novas catracas mecânicas, revisão da parte elétrica, revisão da estrutura física do estádio, entre outras. Veja o documento completo aqui.

O Amigão foi fundado em 8 de março de 1975 e, desde então, é uma obra inacabada, como o próprio relatório da Câmara de Campina Grande diz.

Interdição
Uma das polêmicas recentes envolvendo o estádio diz respeito à redução de sua capacidade devido à instalação de cadeiras em todas as áreas da arena. As obras de alocação de cadeiras foram interrompidas após a cassação do ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB) no fim do ano passado.

O deputado estadual Ruy Carneiro (PSDB), que havia iniciado as obras quando era secretário da Juventude, Esporte e Lazer da Paraíba, afirmou na segunda, em entrevista ao programa Paraíba Agora, da Rede Paraíba Sat, que o Amigão corre o risco de ser interditado se as obras não forem finalizadas a tempo. Segundo o deputado, a possibilidade da interdição ainda existe se o estádio também não adquirir novas catracas e câmeras de segurança.

Mas pelo relatório da Câmara, a reforma ainda vai demorar a começar. Será preciso convocar primeiro o Corpo de Bombeiros e outros órgãos competentes legais para fazer o cálculo da capacidade do número real de torcedores nas arquibancadas. E somente quando for divulgado esse número é que vão implantar cadeiras novas e assentos.

Ou seja, pelo andar da carruagem, as chances são grandes de o Campinense não jogar pelo menos as primeiras partidas da Série B no Amigão (e é importante que não jogue mesmo porque o estádio não oferece segurança nenhuma ao torcedor). Mas o que vai acontecer com o torcedor que comprar o pacote completo para os jogos no estádio? E se esse torcedor não puder ir ao outro estádio escolhido para o clube mandar suas partidas, já que seria provavelmente em outra cidade?

Como sempre, é o torcedor que leva a pior pelo descaso e irresponsabilidade de décadas do Governo da Paraíba, da Federação Paraibana de Futebol e dos próprios clubes que utilizam o Amigão.

domingo, 29 de março de 2009

22 morrem em tumulto em partida na Costa do Marfim

Da BBC Brasil

"Pelo menos 22 pessoas morreram e mais de 132 ficaram feridas neste domingo em um tumulto durante uma partida de futebol eliminatória para a Copa do Mundo na Costa do Marfim, informou o Ministério dos Esportes do país.

Segundo o ministério e a Federação de Futebol da Costa do Marfim, o tumulto começou quando milhares de torcedores tentavam entrar no estádio Houphouet-Boigny, em Abidjan, antes do começo da partida. Parte de uma parede desabou, provocando pânico entre a multidão.

Cerca de 50 mil pessoas lotavam o estádio, que foi recentemente reformado. Apesar do incidente, a partida foi realizada, e a seleção da Costa do Marfim goleou a do Malauí por 5 a 0.

Segundo o correspondente da BBC na Costa do Marfim, John James, a polícia tentou controlar a multidão, mas não conseguiu.

De acordo com James, o estádio estava lotado também por causa da participação do atacante Didier Drogba, estrela do time britânico Chelsea, que marcou dois gols na partida.

O correspondente da BBC afirma que centenas de torcedores morreram em tumultos em estádios de futebol africanos nos últimos anos."

Tiroteio deixa três baleados nos arredores do Maracanã

Um tiroteio causado por membros de torcidas organizadas rivais de Fluminense e Botafogo deixou cinco pessoas feridas nas proximidades do Maracanã, na rampa de acesso do metrô da Uerj.

Dos feridos, três homens foram baleados. Dois deles, torcedores do Fluminense, foram identificados e levados a hospitais, um ao Souza Aguiar, no Centro, e o outro ao Salgado Filho, no Méier.

Já o terceiro baleado seria torcedor do Botafogo e fugiu do local em uma moto e é procurado pela polícia.

Os outros dois feridos foram agredidos fisicamente na confusão e estão no Hospital Souza Aguiar.

Ninguém foi preso até o momento.

sábado, 28 de março de 2009

Presidente de organizada do Juventude é preso antes de clássico contra Inter

Dinho, presidente da Mancha Verde, torcida organizada do Juventude-RS, foi preso em flagrante neste sábado por porte ilegal de arma de fogo e disparo de três tiros em direção a torcedores do Internacional. Ninguém se feriu no incidente, que ocorreu nas imediações do estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul, duas horas antes do clássico válido pelo Campeonato Gaúcho.

De acordo com a polícia, o tumulto começou quando torcedores do Inter se aproximaram dos rivais jogando pedras e soltando foguetes. Em seguida foram feitos os disparos e os grupos se dispersaram na rua.

Cláudio Júnior Ribeiro Spigolon, o Dinho, tem 26 anos e é líder da Mancha Verde desde 2002. Ele já prestou depoimento na delegacia de polícia e teve sua prisão validada. Deve ser encaminhado ao Presídio Industrial.

Na delegacia, Dinho foi entrevistado pelo jornal Pioneiro, do Rio Grande do Sul. Negou ter atirado em torcedores rivais. Confira a entrevista:

“Pioneiro: O que você fez?
Cláudio Júnior Ribeiro Spigolon, o Dinho: Não dei tiro em ninguém. Fui preso porque eu era o que estava mais próximo da arma, que foi jogada no chão. É isso. Agora tô aqui, algemado. No que eu fui me meter!

Pioneiro: Como assim?
Dinho: Quando a confusão começou eu fui para frente de todos (os juventudistas) e pedi para recuarem. O pessoal do Inter estava se aproximando com pedras, paus e soltando foguetes e, de repente, começaram os tiros contra eles. Não sei quem fez isso, mas sobrou pra mim.

Pioneiro: Qual sua opinião sobre alguém que vai armado a um estádio?
Dinho: Sei lá. Não tenho opinião. Não sei o que pensar. Quero sair daqui (delegacia) e entender o que aconteceu.

Pioneiro: De um líder de torcida um clube espera um comportamento exemplar.
Dinho: A torcida do Juventude sabe que eu nunca atiraria em ninguém. Sempre defendi a paz nos estádios.”

quarta-feira, 25 de março de 2009

Governo argentino punirá distribuição de ingressos grátis às organizadas

A Argentina vive um momento parecido com o Brasil em relação à violência nos estádios. Como aqui, o governo argentino, depois das constantes brigas e mortes no futebol, está criando medidas para afastar dos estádios os torcedores violentos. Vai agora punir os clubes que derem ingressos gratuitos para torcidas organizadas. Uma prática, aliás, muito comum por aqui.

A matéria abaixo foi publicada no UOL Esporte.

“O ministro argentino da Segurança e Justiça, Aníbal Fernández, anunciou nesta quarta-feira que o governo do país controlará a distribuição de ingressos para os jogos de futebol e punirá os clubes que "presentearem" com bilhetes as torcidas organizadas, chamadas de "barras bravas".

"Não tenham dúvidas de que vamos de sola sobre os dirigentes que entregarem ingressos grátis às 'barras'", disse Fernández, em entrevista à rádio La Red, de Buenos Aires.

O governo e a Associação de Futebol Argentino (AFA) firmaram na última semana um acordo que permitirá ao Estado impedir a entrada de torcedores condenados por atos violentos nos estádios. Será implantado um processo de cadastramento, semelhante ao que o Ministério do Esporte deseja instituir no Brasil.

"Não é uma medida 'enlatada', e sim uma solução positiva. Também há outras que estamos estudando", concluiu Fernández.

As frequentes brigas entre torcidas já provocaram 220 mortes na Argentina.”

terça-feira, 24 de março de 2009

Restrição a torcedores visitantes em clássicos aumentou violência

O tiro saiu pela culatra. O pedido do Ministério Público e da Polícia Militar de reduzir a cota de torcedores visitantes em clássicos não contribuiu para diminuir a violência entre torcedores nesses jogos. Infelizmente, aconteceu o contrário.

Tanto o jogo entre São Paulo e Corinthians no Morumbi (10% de corintianos) e entre Corinthians e Santos no Pacaembu (6% de santistas) ficaram marcados por brigas nas arquibancadas entre as torcidas visitantes e a Polícia Militar.

“Há um clima hostil. Os torcedores não estão aceitando a restrição de ingressos. Não posso dizer com 100% de certeza de que esse foi o motivo para o que aconteceu no Pacaembu. Mas no Morumbi foi uma demonstração categórica”, disse o major José Balestiero Filho, subcomandante do 2º Batalhão de Choque da PM à Agência Estado.

Está presente na cultura do futebol brasileiro a divisão das arquibancadas ao meio em clássicos. Esse duelo particular de cores e cantos sempre compôs o cenário de Fla x Flu, Cruzeiro x Atlético, Gre-Nal, Ba-Vi, entre outros confrontos em todos os estados.

Mudanças nessa história geram uma insatisfação e revolta inevitáveis das torcidas. Soma-se a isso o despreparo da polícia em situações de tensão em multidões e as cenas do último domingo no Pacaembu tornam-se comuns.

A demagogia e a canastrice dos dirigentes é um caso à parte nessa história toda, e também contribuiu muito para as brigas nos dois clássicos. Quando o São Paulo destinou só 10% para corintianos no Morumbi, o presidente alvinegro Andrés Sánchez esbravejou, incitou seus torcedores contra os adversários e depois os chamou de heróis. Aí contra o Santos destinou só 6% aos santistas. Dessa vez quem roubou a cena foi o Marcelo Teixeira, que discutiu com torcedores rivais. Parece que nenhum deles sabe da responsabilidade que têm ao comandarem clubes como os que presidem.

No próximo sábado, São Paulo e Palmeiras se enfrentam no Morumbi. E, mais uma vez, a torcida visitante, no caso a palmeirense, terá direito a apenas 10% da carga total de ingressos. A polícia diz que vai reforçar o policiamento.

Ou seja, já detectaram o problema, mas vão insistir nele e na solução que não vem dando certo.

Torcedor do Flamengo baleado em confronto com vascaínos segue em estado grave

Mais um caso triste decorrente de brigas entre torcidas. Segue abaixo matéria da Agência Estado.

"RIO - O torcedor do Flamengo Fabio Alves da Silva, de 28 anos, atingido com um tiro no pescoço antes do clássico contra o Vasco, neste domingo, continua internado em estado grave. Ele foi submetido a uma cirurgia na manhã desta segunda-feira, no Hospital Salgado Filho, no Meier, zona norte.

De acordo com testemunhas, a vítima estava no meio de um grupo de torcedores do Flamengo quando foi baleada após um confronto com a torcida do Vasco, nas imediações da estação ferroviária da Mangueira. Ele foi levado de carro por um amigo para o hospital.

Outros dois torcedores do Flamengo, Marlus Newton, de 19 anos, e Jonas Benjamin, de 18, foram espancados por um grupo de vascaínos em Jacarepaguá, na zona oeste, também antes da partida, e passaram a noite de domingo no Hospital Pasteur, no Meier. Eles acabaram agredidos apenas porque vestiam a camisa do Flamengo.

Marlus sofreu diversas escoriações e fraturas no rosto, mão e joelho, enquanto seu amigo teve o rosto bastante atingido. Os dois, no entanto, já foram liberados. "

segunda-feira, 23 de março de 2009

Visões do clássico

De longe, do lado oposto da arquibancada lilás, do tobogã e da numerada, onde se presenciaram as principais cenas de violência no clássico do último domingo, entre Corinthians e Santos, não tenho embasamento suficiente pra tecer qualquer relato.

Por isso, vale a pena ressaltar os mais variados pontos de vista de quem esteve mais in loco, e participou, ou não, efetivamente dos atos naqueles espaços do estádio do Pacaembu.

"As imagens apresentadas da diretoria foram feitas posteriormente de tudo aquilo que ocorreu [no camarote]. A maneira como entramos e saímos do reservado não foram feitas. Incrível que ainda nós somos considerados os responsáveis. Coisas que realmente ninguém pôde filmar ocorreram. Fomos cuspidos, chutados" - Marcelo Teixeira, presidente do Santos, que assistiu à partida de um camarote, acima das numeradas, ao lado do setor em que ficaram reunidos os pouco mais de 2000 torcedores alvinegros praianos.

"Às vezes, prefiro tomar soco na cara e chutes por trás do que cusparadas. Agora não dá para ficar passivo diante de fatos que, infelizmente, as cenas não mostram" - idem

"O dirigente ao final do jogo abriu a janela do camarote onde estava e sem mais nem menos começou a provocar os torcedores corinthianos que se encontravam na área vip. Ria, gesticulava e incitava as pessoas que estavam naquele setor. Como se não bastasse, copos de água foram arremessados com força para baixo atingindo crianças e todos que estavam por lá, inclusive também fui premiado com um desses. E poderia ter acontecido ainda uma tragédia, pois os vidros da janela desse camarote eram chutados pelos seus ocupantes e não quebraram por milagre. Os gritos que saiam de lá eram: 'vocês vão ver lá na Vila Belmiro!'" - Benjamin Back, corintiano, colunista do Lance!, que também estava presente no setor VIP do estádio municipal.

"Assim que terminou o clássico, uma confusão tomou conta do Pacaembu. Um torcedor do Corinthians colocou uma faixa na grade que separava as duas torcidas, e a faixa foi tirada por um santista. Outros a pisotearam e botaram fogo no pedaço de tecido. Foi a senha para que a Polícia Militar entrasse em ação contra integrantes das duas torcidas, com golpes de cassetetes. Nos minutos após o apito final, 15 torcedores do Santos foram detidos. Um sinalizador foi atirado por integrantes de uma torcida organizada do time visitante", Alex Sabino, repórter do Estadão.

"Quando a tensão parecia diminuir, os ânimos foram inflamados por pessoas que estavam no camarote da diretoria do Santos. Os irmãos do presidente Marcelo Teixeira, Mohammed Teixeira e Milton Teixeira Filho, atiraram objetos e água nos torcedores corintianos nas numeradas. Gritavam que não demoraria e o Corinthians iria jogar na Vila Belmiro, já inflamando os ânimos para o próximo confronto entre as duas equipes, no Campeonato Brasileiro - ou talvez na fase final do Paulistão.Cercado por seguranças, o mandatário do clube saiu pelo setor onde estava a torcida do Santos cuspindo marimbondos e xingando policiais militares. "Venham me bater agora, seus f.d.p.! Por que não vêm agora? Podem bater no presidente do Santos...", berrou, enquanto era empurrado em direção à saída do estádio por assessores e seguranças mal-encarados. Nem os torcedores santistas, contudo, pouparam o cartola, xingando-o e criticando o time montado para a atual temporada" - idem

Na mesma linha, depoimento do ator Dan Stulbach, torcedor do Corinthians, e que acompanhou tudo do espaço MAIS CARO DO ESTÁDIO, onde os ingressos custavam de R$ 100,00 a R$ 150,00.

http://espnbrasil.terra.com.br/campeonatopaulista/noticia/40581_VIDEO+ATOR+DAN+STULBACH+TESTEMUNHA+E+ACUSA+DESCONTROLE+DE+MARCELO+TEIXEIRA

Quetões: responsabilidade e conscientização em uma praça esportiva têm efetivamente a ver com a condição econômica? Qual a peso, nesse episódio, dos torcedores organizados? Haverá um cadastro nacional de dirigentes e cartolas para que eles frequentem os estádios?

quinta-feira, 19 de março de 2009

Por que a Inglaterra rejeitou a Carteira de Torcedor?

Reproduzo artigo publicado por Oliver Seitz* nesta quinta-feira no site Universidade do Futebol. O texto critica o cadastramento dos torcedores brasileiros, medida anunciada pelo governo em projeto de lei que altera o Estatuto do Torcedor.

"Se não melhorarem a qualidade dos estádios brasileiros, o torcedor será um animal oficialmente reconhecido pelo governo

Antes de mais nada, não acredito que o projeto da Carteira do Torcedor será implementado. A rejeição à idéia e os empecilhos técnicos e práticos são tão grandes que acho difícil que o discurso passe da sua fase retórica.

De qualquer maneira, é preciso aplaudir a intenção do Governo Federal. Pelo menos, mostram preocupação com o estado dos estádios do Brasil e com a integridade do torcedor. Tornar a ação de cambistas e os tumultos dentro do estádio em crimes, além de elevar o nível de exigência estrutural dos estádios, é salutar.

O cadastramento de torcedores, porém, pode ser um grande equívoco. E não estou dizendo isso baseado em um "achismo" qualquer ou considerando algumas variáveis soltas para a construção de um pensamento superficial. Não. Estou reproduzindo o que foi dito por um dos maiores responsáveis pela melhoria de segurança dos estádios britânicos, Peter Murray Taylor, também conhecido como "Lord Justice Taylor".

Estudos sugerem que o hooliganismo sempre existiu no futebol britânico, mas começou a ficar em maior evidência a partir dos anos 60, atingindo seu ápice em 70 e 80. A escalada de violência nos estádios do Reino Unido foi tamanha que começou a afetar não apenas os residentes locais, mas também a ter consequências para a Europa continental. Por conta disso, o hooliganismo arranhou a imagem internacional do Reino Unido, que passou a ser visto por todos como um país de violentos arruaceiros.

Não ajudou em nada a Tragédia de Heysel, uma briga generalizada entre torcedores do Liverpool e da Juventus em 1985, que resultou em 39 mortes. O problema para o Reino Unido foi que desses 39 mortos apenas um era britânico. Outros dois eram franceses, quatro belgas e, pasmem, 32 eram italianos. Foi um massacre britânico. Logicamente que o Reino Unido passou a ser mal-visto pelos seus vizinhos.

Insuflada por esse acontecimento, a primeira-ministra britânica Margareth Thatcher disse que o hooliganismo tinha se tornado “um problema crônico” na ilha. Algo precisava ser feito. E, condizendo com a sua própria ideologia da redução da liberdade individual e aumento do controle do Estado sobre o cidadão, a "Dama de Ferro" sugeriu a criação da carteira de identidade dos torcedores de futebol (National Membership Scheme) no Football Spectators Act (FSA), em 1989.

A reação da opinião pública foi imediata. O argumento principal contra a medida se baseava na crítica à ideologia da proposta, de identificar o cidadão perante o Estado. Afinal, por que o Estado precisa saber se você vai ou não a um jogo de futebol? Não fazia sentido.

Poucos meses depois da divulgação do FSA, aconteceu a maior tragédia do futebol britânico. Na partida válida pelas semifinais da FA Cup entre Liverpool e Nottingham Forest, no estádio de Hillsborough, do Sheffield Wednesday, 96 torcedores do Liverpool foram massacrados contra as grades que separavam a arquibancada do campo. A mídia tratou de achar culpados para o massacre. A culpa, dizia-se, era dos hooligans. Estava tudo fora de controle. Eles precisavam ser contidos.

Para apurar de forma mais detalhada o que de fato havia levado 96 pessoas à morte, o governo lançou uma investigação que foi conduzida pelo supracitado "Lord Justice Taylor". Ao analisar com profundidade os fatos, Taylor concluiu que o problema em si não era os torcedores, mas sim as estruturas que atendiam essas pessoas. Muito pior do que os hooligans, era a situação dos estádios britânicos. Como exigir que as pessoas possam se comportar de maneira civilizada em um ambiente que não oferece as menores condições de higiene e segurança?

Para evitar que novas tragédias como Hillsborough viessem a se repetir, Taylor elaborou um documento com uma série de recomendações, que ficou conhecido como Taylor Report. Dentre essas recomendações - que incluíam a obrigação da colocação de assentos para todos os lugares do estádio, a derrubada das barreiras entre a torcida e o gramado e a diminuição da capacidade dos estádios - estava o cancelamento do projeto da carteira de identificação dos torcedores. De acordo com Taylor, era bastante possível que a carteira de identidade viesse a aumentar o problema da violência, e não o contrário.

Além dos questionamentos sobre a real capacidade dos clubes conseguirem colocar em prática um sistema confiável de seleção de torcedores e sobre a confiança na tecnologia que seria utilizada, o argumento se baseava na idéia de que a carteira de identidade para torcedores não era uma ação focada na segurança, mas sim na violência. E as tragédias nos estádios não era uma questão de violência, mas sim de segurança. A própria polícia inglesa, que teoricamente seria a grande beneficiada com a carteira, rejeitou o projeto, que, por conta de tudo isso, foi abandonado.

E é aí que talvez resida o grande equívoco do projeto das carteirinhas do torcedor no Brasil. É lógico que o problema da violência é grande, mas muito pior é o problema da insegurança. Como exemplo, a última grande tragédia do futebol brasileiro, o buraco nas arquibancadas da Fonte Nova, só aconteceu porque o estádio estava literalmente caindo aos pedaços. Naquela situação, a carteirinha de identificação não teria salvado as vítimas. Uma melhor fiscalização nas reais condições do espaço e o fornecimento de uma estrutura apropriada para o público, certamente que sim.

É imprescindível que o Governo Federal busque maior aprofundamento para saber as reais consequências do estabelecimento da Carteira do Torcedor, sob risco de criar um monstro muito maior do que o atual.

Muitos dizem que, no Brasil, o torcedor é tratado como animal. E quem é tratado como animal, age como animal. Caso nada seja feito para melhorar a qualidade das estruturas e do serviço dos estádios do Brasil, o torcedor continuará sendo um animal, só que com uma carteirinha. Um animal oficialmente reconhecido pelo governo.”

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

*Para saber quem é Oliver Seitz clique aqui.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Organizadas em xeque em Goiás - Entrevista com Marcus Jary Nascimento

Escrevi há algumas semanas sobre a situação atual das torcidas organizadas no estado de Goiás. Depois que três torcedores da Esquadrão Vilanovense foram assassinados, segundo suspeitas, por um integrante da Força Jovem do Goiás, as organizadas foram colocadas em xeque no estado. Há pedidos pela extinção desses grupos.

O professor de Educação Física e Mestre em Educação Brasileira da Universidade Estadual de Goiás (Eseffego), Marcus Jary Nascimento, tem projeto de pesquisa sobre o assunto e organizou recentemente um debate em Goiânia com integrantes das torcidas, do Ministério Público e o deputado Luis César Bueno (PT-GO), que está pedindo o fim das organizadas. Nessa entrevista ele conta como está composta a divisão de opiniões entre esses setores da sociedade civil quanto a esse assunto e discute propostas para a diminuição da violência no futebol.

Casa do Torcedor – Gostaria que você falasse um pouco sobre a situação atual das torcidas organizadas em Goiás. Quem pede a extinção desses grupos?

No dia 05/03 fizemos um debate aqui sobre esse assunto. Estiveram envolvidos o Ministério Público, as torcidas organizadas e o deputado estadual Luis César Bueno, que é autor de um projeto de lei que proíbe torcedores organizados de adentrarem os estádios, entre outras coisas.
Lembrando que aqui as Polícias entraram com o pedido de extinção no ministério público alegando que as torcidas Esquadrão Vilanovense e Força Jovem Goiás têm envolvimento com a prática de crimes como formação de quadrilha, homicídio, etc.
A posição do Ministério Público no debate foi de não acatar o pedido por que segundo o promotor não há provas de que os crimes foram cometidos com participação das lideranças. Portanto, o promotor Marcelo Celestino declarou ser contrário à extinção, pois segundo ele não se trata problemas sociais apenas com a aplicação das leis.
O promotor chama clubes, federações e autoridades públicas para se responsabilizarem pela segurança no futebol.
Ele até lembrou que do último ajustamento de conduta feito entre ministério público, clubes, federação, torcidas e autoridades, as agremiações de torcedores foram os únicos a cumprir com o acordo.
O promotor argumenta que, se existem criminosos entre os torcedores organizados, cabe à polícia fazer o serviço de inteligência e retirar essas pessoas do convívio social. Apela também para a necessidade de pensar medidas para controlar as ações dos torcedores e não extinguir as torcidas organizadas. Até por que isso seria inconstitucional, já que a constituição assegura o direito de associação.
O que se pode pensar, segundo ele, é na extinção daquelas agremiações em que se provar o envolvimento com atos ilícitos. Aqui no caso de Goiânia, segundo ele, não há provas desse envolvimento.

CT – O que diz esse projeto de lei do deputado Luis César Bueno?

Entre outras coisas o projeto de lei do deputado proíbe a manifestação de torcidas organizadas nos torneios de futebol; proíbe a entrada de rojões e outros artefatos de pólvora ou arma branca; responsabiliza os clubes pela segurança interna dos estádios; proíbe a entrada nos estádios de menores de 16 anos.
E no seu artigo 2º define torcida organizada como qualquer aglomeração de pessoas caracterizadas por símbolos ou uniformes, que tenha algum tipo de liderança ou que sejam ligadas a associações independentes, grupos ou clubes de futebol.
Na opinião do deputado, as torcidas organizadas quando ainda tinham forma de charanga eram focos de resistência política e cultural das classes populares, mas nos anos 90 passaram a adotar a violência como prática.
Segundo ele muitas das agremiações se assemelham a organizações nazifascistas. Por isso esse tipo de agremiação não deveria adentrar os estádios.

CT - No dia 8 de fevereiro, houve o assassinato de três torcedores da organizada do Vila Nova e um torcedor da Força Jovem Goiás é o acusado do crime. Há uma relação direta entre esse caso e essas propostas das polícias e do deputado?

Foi esse fato que desencadeou o pedido de extinção, tanto por parte do deputado, quanto da Polícia.

CT - E nesse debate, que outras propostas foram colocadas para diminuir a violência nos estádios?

Os líderes das torcidas não negam que membros pratiquem crimes, mas negam a relação das agremiações com os crimes. Na opinião dos líderes de torcidas é preciso melhorar as condições de segurança como um todo. Cobraram por exemplo linhas de ônibus especiais para os integrantes de torcidas organizadas.
O promotor ressaltou a necessidades de cadastramento dos torcedores e trabalho de investigação policial para combater a criminalidade. Segundo ele, é preciso rever a conduta violenta dos policiais e até criar batalhões especializados no assunto. E acima de tudo cumprir o estatuto do torcedor. Para o promotor já há leis suficientes, o que falta é cumpri-las.
O próprio projeto do deputado ao responsabilizar os clubes pela segurança interna já é uma medida.
Eu particularmente acho que a questão é mais ampla

CT – E você, que já realizou estudos sobre a dinâmica das torcidas organizadas de Goiânia, tem qual visão sobre o assunto?

Eu penso que é preciso pensar num conjunto amplo de medidas que deve envolver a repressão, o controle das agremiações e ações sócio-educativas.
Porque veja: a violência hoje é um problema estrutural no mundo todo. Só a título de exemplo, outro dia uma pessoa se atirou com um avião dentro de um shopping aqui em Goiânia. Contudo, não há como pensarmos em resolver nossos problemas estruturais para então combatermos a violência. Essas duas esferas – a do geral e do particular – devem ser pensadas concomitantemente. Enquanto a sociedade civil e política com um todo, pensa em soluções para o graves problemas estruturais que temos, no futebol precisamos construir um leque amplo alternativas. Num certo limite não dá para descartar nem mesmo a possibilidade de extinção para os casos em que se provar o envolvimento das agremiações com atos ilícitos.
Veja só: o tipo de comportamento das torcidas organizadas reinventou no século XXI formas de se relacionar de períodos ainda primitivos de nosso processo histórico.

CT – Como assim?
Defesa de território e de símbolos com uso da violência; culto à dor e ao sofrimento como forma de purificação. Boa parte dos confrontos está ligada à defesa de territórios: queimar camisas e bandeiras dos adversários; espancar e arrancar a camisa do torcedor do time rival e até matar.
Isso tem uma semelhança muito grande com uma prática comum nas organizações tribais chamada totemismo. Então não adianta somente retirar os marginais de dentro das torcidas, è preciso rever formas organizativas das agremiações. Esse ódio, essa intolerância tem que ser combatida. Torcedores organizados buscam nas agremiações uma espécie de reafirmação social e identificação coletiva. Esse processo tem que se dar em bases socialmente aceitas.
Eu sugeri, por exemplo, a realização de projetos sócio-educativos nas escolas. Por que no levantamento que eu fiz, mais de 60% dos membros de torcidas estudam na rede pública de ensino. As células das torcidas em muitos casos estão organizadas dentro das escolas. Seria um bom exemplo de educar antes de extinguir.

CT - E essas mudanças pelas quais as organizadas estão passando aí em Goiás, como mudar o lado em que ficam em jogos entre Vila Nova X Goiás, são eficazes?

Ajuda, pois aqui a torcida do Goiás entrava pelo lado norte do estádio, exatamente a parte da cidade onde se radica majoritariamente a torcida do Vila Nova.

CT – Essa mudança partiu de quem?

Da Polícia.
Então veja: as soluções são de caráter imediato – como essa de mudar o lado da entrada – e de caráter mais amplo, como investir em projetos educativos. Qualquer tentativa de reduzir a um só aspecto fracassará.
Aqui a polícia também acabou com a escolta. Acredito que contribui. O torcedor sai de sua casa e vai direto para o local do jogo, a polícia monitora pontos estratégicos nos caminhos que dão acesso ao estádio.
Eu acompanhei várias escoltas. Os torcedores cometem pequenos atos de vandalismo ao longo do caminho, a polícia vai batendo em todo mundo, fazendo acirrar os ânimos, de modo que quando se chega até o estádio o clima já é de guerra.

CT – Para terminar, gostaria de saber o que você achou do projeto de lei assinado pelo presidente Lula que altera o Estatuto do Torcedor.

Eu estive na cerimônia lá em Brasília. Penso que as medidas são importantes, mas ainda tímidas. Efetivamente ainda não se responsabiliza legalmente clubes e federações pela organização dos espetáculos e não se pensa em medidas para humanizar os estádios. As condições de higiene e de recepção aos torcedores, por exemplo, são as piores possíveis.

CT – Foi consultado na elaboração do projeto?

Eu conversei com um colega que participa do Conselho Nacional do Esporte e ele me disse que nem o Conselho foi consultado. O problema tem que ser estudado com seriedade. Não existem medidas salvadoras.

terça-feira, 17 de março de 2009

Decreto deixa reestruturação dos estádios de fora

A socióloga Heloisa Reis, em entrevista recente à Casa do Torcedor, defendeu a elaboração de uma legislação específica para conter a violência nos estádios. Conversei com a professora novamente nesses dias para saber sua opinião sobre o Projeto de Lei assinado por Lula que modifica o Estatuto do Torcedor e o decreto, também assinado pelo presidente, que aumenta as exigências para o funcionamento das arenas esportivas.

Segundo Heloisa Reis, um capítulo sugerido por ela sobre infra-estrutura de estádios deixou de ser incorporado ao decreto.

Esse capítulo estabeleceria, a partir da capacidade potencial de cada estádio, o número de portões de entrada e saída, número de bares e número de sanitários necessários.

O decreto assinado, por sua vez, apenas exige um laudo de engenharia e, dependendo do tamanho do estádio, um laudo de estabilidade estrutural. Hoje já são precisos os laudos do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e Vigilância Sanitária.

“O capítulo que faltou diz tudo para que o decreto tenha eficácia. Sem uma norma ele não terá eficácia, porque já existem laudos atualmente. Porém, se não houver uma norma técnica de acordo com as internacionais de nada adianta alguém ou algum órgão assinar um laudo”, opina Heloisa.

“É um capítulo fundamental para a reestruturação dos estádios e fiscalização dos mesmos”, completa a professora.

Apesar da ausência de sua proposta no decreto, Heloisa Reis classifica o projeto de lei que altera o Estatuto do Torcedor como “ótimo” e “necessário”.

“O Estatuto [do Torcedor] foi um marco na política de prevenção à violência nos esportes e para a segurança dos espectadores, porém havia deixado de tratar das responsabilidades de maneira mais objetiva e da criminalização dos atos. E o PL vem agora cumprir essa lacuna, pois conceitua torcidas organizadas e deixa mais claro as responsabilidades. Acredito que o projeto irá diminuir consideravelmente a impunidade e a sua sensação de”, afirma.

Heloisa Reis é socióloga docente da Faculdade de Educação Física da Unicamp e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas do Futebol. Já coordenou a pesquisa “A caracterização do torcedor organizado de São Paulo” e é uma das maiores autoridades do país sobre violência no futebol.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Organização feminina

Dentre as datas comemorativas comerciais, uma das que mais têm relevância é a do dia 8 de março, por toda a história que cerca a luta e os benefícios conquistados pelas mulheres.

E para fazer jus, mesmo que com esse atraso semanal, vale a pena indicar matéria veiculada no caderno Cotidiano da Folha de S. Paulo, sobre a presença de associadas do sexo feminino dentro das principais torcidas organizadas do país.

O interessante artigo assinado por Adriana Küchler, da REVISTA DA FOLHA, foi veiculado não em Esportes. Na íntegra, abaixo:

Fanática por futebol adere a torcida organizada
Superar preconceitos, enfrentar banheiros sujos e até encarar brigas, vale tudo pelo time do coração

Mãos para o alto e pernas abertas. Nessa posição, 12 torcedoras do São Paulo tiveram de ser revistadas pela Polícia Militar antes de chegar à Vila Belmiro para assistir ao clássico contra o Santos no último domingo. Cinco minutos depois da situação humilhante, elas vibravam no estádio. O jogo era mais importante.

Assim como elas, outras centenas estarão hoje, Dia da Mulher, acompanhando outro clássico, Palmeiras e Corinthians, não pela TV, mas dentro das torcidas organizadas.

É difícil quantificar o crescimento da presença das mulheres nos antigos redutos masculinos. Hoje, estima-se que elas representem cerca de 5% do contingente das organizadas.

Elas tentam se igualar a eles indo aos jogos, viajando atrás do time, gritando, xingando e às vezes se metendo em confusões. Mas também têm de enfrentar as tais revistas constrangedoras, banheiros imundos e restrições impostas por eles, que chegaram primeiro.

Quem manda na torcida são os machos. Eles decidem em que caravanas as meninas podem ir. "A gente respeita. Mulher não tem vez", diz Priscila Bernardino, 25, que frequenta, desde 1994, a Gaviões da Fiel, organizada do Corinthians. "Antes, nem deixavam a gente ir a clássico", diz Érika Papangelacos, 27, 15 anos de Gaviões.

O machismo ainda marca presença nas torcidas. Apesar da crescente presença das mulheres, elas não participam da direção. Mas, pouco a pouco, vêm ganhando voz. "Muito homem não aceita que mulher possa gostar de futebol sem ser para ver perna de jogador", diz Amanda de Oliveira, 20, do Bonde Feminino, ala de meninas da Dragões da Real, organizada do São Paulo.

Ela explica que só ganham respeito depois que demonstram entender de futebol.

Reproduzir certas características do comportamento masculino é uma tendência entre as integrantes de torcidas organizadas. "Há até cinco anos, era possível observar que as mulheres só eram bem aceitas nas torcidas se tivessem um comportamento semelhante ao masculino", diz Heloisa Reis, ex-jogadora e professora da Unicamp que pesquisa os aspectos sociais do futebol.

De uns anos para cá, com a criação do Estatuto do Torcedor, destaca ela, cresceu nos estádios a presença não só de mulheres mas das esposas e filhas. Nos anos 1910 e 1920, elas frequentavam jogos de futebol como eventos sociais. Os estádios eram dos poucos lugares em que as mulheres podiam se expor socialmente, diz Leda Maria da Costa, pesquisadora vascaína, autora do estudo "Lugar de Mulher É na Arquibancada". Mas, com a popularização do esporte, a imagem do glamour feminino desapareceu.

Excesso de feminilidade

Sempre preocupadas em manter a "postura", as integrantes das organizadas vivem na corda bamba para não despencar no excesso de feminilidade. O medo: parecer uma maria-chuteira ou maria-torcida.

"Elas mal entram na organizada e já tão "pegando" um monte", diz Amanda. "Conversa do jogo elas não entendem nada." Segundo as torcedoras autênticas, as marias são aquelas que vêm de saia e salto e só querem saber de festa. Para as "organizadas", as marias-torcida não sobrevivem até o segundo tempo. Mudam de time quando trocam de namorado.

Preconceito às avessas

Há quem incentive a presença das mulheres no ambiente esportivo como um estímulo à redução da violência. A polêmica teoria é defendida pelo britânico Eric Dunning, pioneiro em estudos de sociologia do esporte. "Esse é um preconceito às avessas, ancorado no estereótipo de mulher passiva e frágil", diz a pesquisadora Leda.

Não há sinal de passividade quando a torcida rival entra em campo. No encontro que a Folha promoveu entre uma integrante da Gaviões e outra da Dragões, a corintiana afirmou que não participaria com uma torcedora da Independente, outra organizada do São Paulo.

Há torcedoras que se metem em briga por querer. "É a mina-mano", diz Priscila. "Azar o dela, que se acha mulher-maravilha. Que apanhe de homem."

Elas também dispensam a solidariedade entre mulheres. Se vê uma garota de outra torcida em má situação, Priscila é categórica: "Passo reto". Para Amanda, a regra é clara. "Quando você vai a um clássico, sabe o perigo que está correndo."

domingo, 15 de março de 2009

Sobre a coluna do Fernando Rodrigues, na Folha

Dentro do projeto da Folha de S.Paulo de contribuir para a eleição de José Serra em 2010 vale tudo. O foco principal é tentar passar a impressão que o país está mergulhado na crise, mas vendo que a popularidade de Lula só aumenta, e crescem as chances de Dilma chegar ao Planalto, eles atacam em todas as frentes.

A coluna do Fernando Rodrigues neste sábado é um bom exemplo disso. O Projeto de Lei, assinado pelo Lula e enviado ao Congresso Nacional, que modifica o Estatuto do Torcedor foi escolhido para ser o alvo das críticas.

Até aí, nada de mal. Há, na minha opinião, uma série de críticas a fazer ao projeto. A principal delas é por ele não prever o mesmo rigor nas punições a policiais, que vêm sendo tão responsáveis pela violência nos estádios quanto torcedores vândalos. Mas a coluna do Fernando Rodrigues não vai por aí. Ele prefere ver problema onde não há e faz ainda uma comparação absurda. Os absurdos são vários, aliás. Razão pela qual resolvi comentar o texto por trechos.

O stalinismo no futebol

O título é esse mesmo, mas não se assuste. O novo Estatuto do Torcedor não tem nada a ver com o regime ditatorial da antiga URSS.

BRASÍLIA - Um grande prazer nas manhãs de domingo da minha infância era quando meu pai decidia, de última hora, que iríamos a uma partida de futebol à tarde, no Morumbi. Esse tempo passou. Lula e seu ministro do Esporte, Orlando Silva, anunciaram ontem que só serão admitidos nos estádios em 2010 os torcedores previamente cadastrados e portadores de um documento de identificação específico para eventos esportivos.

Se a medida será eficaz ou não, sinceramente, não sei, mas ela não impede pai nenhum de surpreender o filho no domingo de manhã ao decidir lavá-lo ao estádio de futebol. Basta que antes ele tenha sido cadastrado.

A ideia é reduzir a criminalidade nos estádios. Mas, em vez de punir os vândalos, o governo socializou o problema. Pessoas de bem terão de se submeter ao incômodo processo de obter uma carteirinha. Não passou pela cabeça dos formuladores do governo que esse tipo de exigência fere o direito de ir e vir. A história é pródiga em exemplos dessa ordem. Na antiga União Soviética, os cidadãos eram obrigados a ter um passaporte interno. Só mudava de cidade quem tivesse autorização prévia de trabalho e moradia no local de destino.

Primeiro que eu nunca engoli esse conceito de “pessoa de bem”. Como ela seria? Mas não vou entrar nessa discussão. E se essa carteirinha fere o direito de ir e vir, o que dizer de todas as outras que temos que usar e portar: RG, CPF, carteira de motorista, carteira de estudante, entre várias outras. Sempre que entramos em um condomínio comercial, tiramos foto, mostramos a identidade. Eu, aliás, quando visitei a Redação da Folha e 2006, fiquei bastante tempo esperando na recepção desse jornal tirando foto, mostrando meu RG e esperando que me deixassem subir. O direito de ir e vir já está totalmente ferido. Tem gente que mal tem dinheiro para pagar ônibus ou metrô, e deixa de se locomover por causa disso. E o cara vai implicar com a carteirinha de torcedor. É mole?

O ministro Orlando Silva é do PC do B, partido cujo modelo de nação até recentemente era a Albânia. Também foi presidente da UNE, uma espécie de sindicato de ex-estudantes em atividade e berço dos "maníacos da carteirinha".

A UNE foi berço político de muita coisa, não só dos maníacos de carteirinha. Foi inclusive berço político do José Serra, que a Folha tenta eleger como presidente. E foi um importante foco de resistência da ditadura. Mas se a Folha chama de “ditabranda”, não dá pra esperar muita coisa. Aqui aproveito para comentar a comparação do projeto do Lula com o stalinismo. É no mínimo absurdo e irresponsável comparar um projeto que busca diminuir a violência com um regime ditatorial que matou milhões de pessoas. Ainda que seja pela burocracia, há outras instituições burocratas para fazer essa comparação, na verdade uma provocação.

Há soluções mais simples para combater a criminalidade nos estádios. Por exemplo, cadastrar vândalos (muitos são conhecidíssimos) e obrigá-los a ficar em delegacias nos dias e horários de jogos.

Pelo projeto, quem promover brigas ou portar objetos perigosos em estádios pode ser punido com um ou dois anos de prisão e multa. Se for réu primário, a pena pode ser convertida em banimento dos estádios por um período entre três meses e três anos. Acho que isso ele não leu.

Com a carteirinha do governo, já é possível imaginar o diálogo. "Vamos ao futebol hoje?", perguntará um amigo ao outro. E a resposta: "Não dá. Não sou cadastrado no sistema do Lula...". Turistas estrangeiros passeando pelo Rio e interessados em assistir a um Fla-Flu no Maracanã? Sem chances.

Nos últimos anos, no Brasil, 43 torcedores morreram em brigas entre torcidas ou com policiais. 25 só no Estado de São Paulo. E o cara está preocupado com os turistas estrangeiros que vão ao Maracanã. É mole? [2]

É o governo querendo resolver um problema e criando um ainda maior.

O sistema de cadastros de torcedores pode não servir para nada, mas não é um problema maior do que a violência nos estádios.

O consolo é saber que nada disso dará certo. Como sempre.

Urubu. Esse é do time dos que estão torcendo pra Brasil afundar na crise, e logo.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Rigor com um lado só

O Projeto de Lei que altera o Estatuto do Torcedor, assinado pelo presidente Lula nesta sexta-feira, já é alvo de críticas de torcedores, principalmente de organizadas.

A primeira reclamação é pela ausência de diálogo entre essas torcidas e o governo na formulação do pacote de medidas. O debate com toda a sociedade civil é essencial para a criação de leis justas. Nesse caso, as organizadas são parte do problema e da solução da violência nos estádios e, por isso, deveriam ter sido consultadas.

Mas a principal reclamação é que o Projeto de Lei fala em aumentar o rigor com torcedores brigões, o que realmente deve ser feito, mas não versa sobre a punição à violência policial.

Na maioria dos últimos casos de barbárie em estádios no Brasil, a polícia não só esteve envolvida, como também foi uma das principais responsáveis por eles, vide o confronto com a torcida do Corinthians no Morumbi em jogo contra o São Paulo no qual mais de 40 alvinegros ficaram feridos.

Se o rigor será o instrumento para tirar torcedores violentos do futebol, deve ser o instrumento também para afastar policiais despreparados e que usam de força desnecessária, potencializando brigas em vez de contê-las.

Veja abaixo depoimentos de diretores de torcidas organizadas sobre esse assunto. Eles foram tirados de reportagem de Marco Antonio Soalheiro para a Agência Brasil.

“De vez em quando a PM também faz coisas que não deve, passa dos limites, agride sem necessidade. Como seremos penalizados, eles também têm que ser” – Pedro Luiz Ribeiro Hansen, presidente da Força Jovem do Santos.

“Violência gera violência. Às vezes, tem só dois elementos brigando numa arquibancada, a polícia chega agredindo geral e a coisa se espalha” – Leonardo Sansão, presidente da torcida Jovem Fla.

Na reportagem, eles também comentaram o cadastramento de torcedores organizados e “comuns”, que pelo projeto, será obrigatório a todos que frequentarem os estádios.

“Aqui em São Paulo melhorou bastante (depois do cadastramento das organizadas, iniciado há dois anos). Os vândalos acabam se reprimindo, porque estão identificados e é tudo filmado” – Hansen.

“Isso é bom para a gente, porque muita coisa que hoje cai na culpa da torcida organizada é provocada por outras questões, como rixas de bairro ou brigas de baile funk” – Sansão.

Nesse vídeo abaixo, da Globo News, há mais opiniões sobre as medidas adotadas pelo Governo.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Exigências para funcionamentos dos estádios vão aumentar

Nesta sexta, o presidente Lula vai assinar um decreto que aumenta as exigências para que um estádio de futebol esteja apto para receber torcedores.

A partir do decreto, será exigido um laudo de engenharia e, dependendo do tamanho do local, um laudo de estabilidade estrutural.

Atualmente são exigidos apenas laudos da Polícia Militar (se segurança), do Corpo de Bombeiros (de prevenção e combate a incêndios) e da Vigilância Sanitária (sobre as condições sanitárias e de higiene).

O Ministério do Esporte também deve estabelecer laudos padronizados nos próximos 120 dias.

“Hoje há três laudos exigidos, mas nenhuma padronização. O decreto que será assinado pelo presidente exige mais um laudo e padroniza os demais. Hoje, há laudos de bombeiros que se resumem a uma carta do comandante da corporação”, comentou Orlando Silva, Ministro dos Esportes.

Opinião: hoje os laudos são emitidos do dia pra noite, só para o estádio poder receber as partidas, mas não há nenhum rigor para saber se as arenas estão realmente em condições de receber os torcedores. Prova disso é o que aconteceu na Fonte Nova em novembro de 2007, matando sete pessoas.

Governo anuncia medidas contra violência nos estádios

O Governo finalmente endureceu contra torcedores brigões na busca pela diminuição da violência nos estádios. Os ministros Tarso Genro e Orlando Silva, da Justiça e Esporte, respectivamente, anunciaram nesta quinta as medidas de um projeto de lei que será enviado ao Congresso amanhã.

Uma legislação específica que previna e puna a violência no futebol é uma grande vitória para quem tem como objetivo lutar pela paz nos estádios. Entretanto, é preciso entender que polícia, imprensa e dirigentes, assim, como alguns torcedores, também são responsáveis por essa violência. Não vi no projeto nenhuma referência a punições para esses grupos.

Veja algumas das medidas:

- O Projeto de Lei transforma em crimes previstos no Código Penal atos violentos cometidos por torcedores ou torcidas organizadas em estádios, nos seus arredores ou no trajeto para os jogos. Quem promover brigas ou portar objetos perigosos pode ser punido com um ou dois anos de prisão e multa. Se for réu primário, a pena pode ser convertida em banimento dos estádios por um período entre três meses e três anos.


- Torcidas organizadas se tornarão pessoas jurídicas de direito privado, constituídas na forma de associações. De acordo com o PL, as organizadas passarão a ser co-responsáveis cíveis pelos danos causados por qualquer um de seus associados no local da competição, nas imediações e no trajeto ao estádio.


- A organizadas serão também obrigadas a manterem um cadastro atualizado com dados de seus associados. Receberão constantemente do Ministério Público uma lista com os nomes dos torcedores impedidos de entrarem nos estádios.


- O PL prevê que todos os chamados “torcedores comuns” também sejam cadastrados. Quando forem aos jogos, terão que apresentar um cartão magnético com seus dados para poderem entrar nos jogos. O cadastro deve começar em junho e ir até o final do ano.


- Cambistas que forem pegos vendendo ingressos por valor maior do que o original poderão ser punidos com prisão de um a dois anos e multa.

E você, torcedor, o que acha das mudanças?

quarta-feira, 11 de março de 2009

Lula assina na sexta medidas que alteram o Estatuto do Torcedor

Dentro de alguns dias devemos ter um novo Estatuto do Torcedor, agora com normas específicas para conter a violência nos estádios.

Torcedores que se envolverem em brigas serão proibidos de entrarem nas arenas, pois atitudes violentas passarão a ser consideradas crimes, previstos no Código Penal. O cadastramento dos torcedores será o meio utilizado para garantir que essa medida seja cumprida.

Vamos aguardar. Certo é que mudanças na lei são necessárias, ainda mais devido à urgência de tomarmos medidas que coíbam a violência no futebol.

Veja matéria completa que saiu nesta quarta pela Agência Estado.

Governo anuncia medidas contra violência nos estádios

Entre as mudanças estão a proibição de entrada nos estádios a torcedores que se envolverem em brigas

“SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai assinar na sexta-feira uma série de medidas para reduzir a violência entre torcidas nos jogos de futebol. As propostas vão alterar o Estatuto do Torcedor, e atendem aos padrões da Fifa para a organização da Copa do Mundo, e serão detalhadas nesta quinta-feira pelo ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior, em entrevista coletiva.

Segundo o ministro, entre as mudanças na legislação estão a proibição de entrada nos estádios a torcedores que se envolverem em brigas, e o processo criminal contra cambistas que forem flagrados vendendo ingressos para partidas. Além disso, será assinado um acordo de cooperação entre o governo, federações e o Ministério Público que prevê o cadastramento de torcedores.

"Isso vai permitir que quem não deve estar no estádio realmente não esteja, além de facilitar a compra de ingressos por meio de cartões", afirmou Silva Júnior. Questionado sobre o fato de o cadastramento não ter dado certo em São Paulo, ele rebateu com o projeto de sócio-torcedor, criado pelos grandes gaúchos, Grêmio e Internacional. "A partir dessa iniciativa, eles tiveram bons resultados, que inclusive repercutiram bem em suas receitas", justificou o ministro.”

terça-feira, 10 de março de 2009

Para Junior Cesar, horário afasta são-paulino do Morumbi

O São Paulo enfrenta nesta quinta o Mirassol, em casa. Mas o ala Junior Cesar já sabe que não pode contar muito com a presença maciça da torcida tricolor. O motivo: o horário da partida.

"Realmente, os jogos estão sendo muito tarde. Sabemos da força da nossa torcida, mas, pelo horário da partida, temos de nos esforçar mesmo se tiver pouco torcedor", falou o atleta em coletiva nesta segunda.

O jogo vai acontecer às 21h45. Ou seja, vai acabar quase meia-noite. Quem depende de transporte público para ir (a grande maioria) vai ter que fazer mágica se quiser assistir a partida.

O pior é que colocam o jogo nesse horário para passar no pay-per-view da Globo, que só rico vê.

Na última quinta-feira aconteceu o mesmo. São Paulo e Oeste se enfrentaram no Morumbi às 21h45. No final do jogo, o torcedor mostrou sua insatisfação com gritos de "HORÁRIO SEM VERGONHA". O público deste jogo foi de 4.798 pagantes.

Que contra o Mirassol o protesto se repita. Até Junior Cesar vai endossar o coro.

Atualização
Em entrevista nesta quarta, Washington foi outro a criticar o horário da partida. O Coração Valente lamentou o desrespeito com os torcedores e disse que o time fica desmotivado por ter que jogar em um estádio com pouco público. Veja matéria aqui.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Torcedores do Juventus-SP dizem que foram ameaçados por capangas da diretoria do clube

Está em matéria publicada no site Bola Rolando no último sábado: torcedores do Juventus que protestavam contra o presidente do clube, Armando Raucci, enviaram ao site denúncias de que foram ameaçados por “capangas” contratados pelo mandatário do time da Mooca.

O episódio ocorreu no sábado, quando o Juventus foi derrotado na Rua Javari por 3 a 1 pelo Flamengo de Guarulhos, ficando ainda mais ameaçado de rebaixamento na Série A-2 do Campeonato Paulista.

O revés revoltou torcedores da equipe grená, que intensificaram os protestos contra Armando Raucci.

Segundo relatos ao Bola Rolando, havia cerca de 20 “leões de chácara” (esses caras que arriscam a vida e a honra pra defender um patrão que os paga um salário de fome). Eles estavam infiltrados à paisana no meio da torcida.

Em meio às manifestações da torcida, eles começaram a ameaçar de forma ostensiva os torcedores do Moleque Travesso, inclusive idosos, que formam boa parte do grupo de amantes do clube.

Nesta segunda, Flávia Raucci, a filha do presidente enviou ao Bola Rolando um comunicado desqualificando a notícia do site e dizendo que por trás dos protestos está a oposição e antiga diretoria do clube, que quer voltar a comandá-lo.

Leia o comunicado aqui.

domingo, 8 de março de 2009

Torcidas ‘trocadas’ em Goiânia

O Goiás derrotou neste domingo o rival Vila Nova por 1 a 0 no Serra Dourada. Para o jogo, coberto de tensão, a novidade ficou na arquibancada.

Nesta partida, as torcidas das duas equipes mudaram o lado em que costumeiramente ficam nos dias desse clássico. Os esmeraldinos ficaram na arquibancada sul, denominada Flamboyant. Na arquibancada norte, que se chama Goiânia Arena, ficaram os amantes do clube alvirrubro.

Isso porque a maioria dos torcedores do Vila Nova moram no lado norte da cidade de Goiânia. Quando tinham que passar para a entrada sul do Serra Dourada, encontravam com os torcedores rivais. Fatalmente ocorriam brigas.

Pelo que já pesquisei, não houve nenhuma grande confusão no clássico deste domingo, embora o clima fosse de tensão. Medidas como a mudança de lado das torcidas mostram que a inteligência pode ser a mais eficiente atitude a favor da paz no futebol.

Mudanças após tragédia
O estado de Goiás vive um momento de reflexão em torno do papel e da responsabilidade das torcidas organizadas dos grandes clubes da capital, especialmente a Força Jovem (Goiás) e a Esquadrão Vilanovense (Vila Nova).

Em 8 de fevereiro deste ano, três torcedores do Vila Nova morreram a tiros durante uma briga entre as torcidas organizadas de Vila e Goiás no bairro de Jardim Curitiba 4º, na região noroeste de Goiânia. O torcedor esmeraldino Diego Carlos de Almeida, 19, um dos líderes da Força Jovem, foi preso suspeito dos três homicídios e da tentativa de um quarto. Diego nega envolvimento no crime.

Após o incidente, ocorrido depois da goleada do Goiás sobre o Vila por 6 a 1, os comandos das polícias Militar e Civil defenderam o fim das torcidas organizadas. Foi também feito um pedido ao Ministério Público para a extinção desses grupos.

Para manterem suas atividades, as organizadas estão passando por algumas mudanças. A Força Jovem, por exemplo, vai extinguir as chamadas “legiões” da torcida e criar uma regionalização na grande Goiânia. Fará também um recadastramento geral de todos os seus associados.

Mais detalhes das mudanças na organização da Força Jovem podem ser vistos aqui, em seu site oficial. O site da Esquadrão Vilanovense está fora do ar.

sexta-feira, 6 de março de 2009

MP do Distrito Federal instaura inquérito contra preço de ingressos

O abuso cometido pelo Dom Pedro Bandeirante e/ou pela Federação Brasiliense de Futebol na cobrança dos ingressos para o jogo contra o Botafogo, no estádio Bezerrão, pela Copa do Brasil, pode não ficar impune.

Paulo Binicheski, promotor da 1ª Promotoria de Defesa do Consumidor do Distrito Federal, entendeu que os valores de 40 a 100 reais para assistir a partida destoa das outras partidas do mesmo torneio.

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, então, instaurou inquérito para apurar os fatos e inibir outras práticas abusivas contra o consumidor de futebol.

Os dirigentes do Dom Pedro têm que apresentar justificativa para os preços cobrados. Já os diretores da Federação Brasiliense devem informar o grau de interferência que têm na fixação de valores para entrada em jogos.

Em função do inquérito, times do Distrito Federal que estejam disputando a Copa do Brasil devem informar, em dez dias, os locais que realizarão os jogos e os preços dos ingressos a serem cobrados.

As informações são do site do MP do Distrito Federal. Ver aqui.

Em jogos como esse entre Dom Pedro e Botafogo, em que um clube grande visita uma cidade que não está acostumada em recebê-lo, os dirigentes aproveitam-se da vontade dos torcedores de verem a partida incomum e abusam na cobrança dos ingressos. O estádio fica lotado, mas os mais pobres ficam de fora. Medidas como essa do MPDF precisam ser tomadas em todo o Brasil para, assim, barrar a elitização do futebol.

Em Pernambuco, a "culpa" é dos menores

Que Eduardo Campos, governador do Estado, vete tal intenção...

Projeto de lei prevê restrição a entrada de jovens em estádios de futebol no PE

Proposta passa por análise de comissão antes de migrar para votação do plenário

Universidade do Futebol

Há aproximadamente um mês, no clássico entre Santa Cruz e Sport, pelo Campeonato Pernambucano, mais de 200 pessoas foram detidas por variados crimes – desde depredação do patrimônio público até brigas e porte de explosivos. Hoje, todas estão livres.

O panorama alusivo a Recife pode ser estendido a qualquer praça nacional, que vem sofrendo com problemas relacionados a violência entre torcidas e instituições de segurança e defasagem de estrutura ao público. E a restrição da entrada de menores de idades em jogos de futebol pode ser uma das soluções para minimizar isso tudo. Pelo menos é em que acredita Clodoaldo Magalhães, deputado estadual pelo PTB-PE.

Na visão do parlamentar, grande parte das torcidas organizadas é formada por crianças e adolescentes, e essas agremiações, de modo majoritário, seriam as protagonistas dos casos problemáticos nas arenas.

“Tem por fito dotar o Estado de Pernambuco de condições favoráveis à sociedade de poder assistir aos grandes jogos de futebol com o conforto e aparato necessários à prevenção e correção de fatos indesejáveis”, verbaliza Magalhães, na justificativa de seu projeto de lei que está em tramitação na Assembleia Legislativa.

Se aprovado, o plano de ação, que determina ainda a criação de um cadastro estadual de infratores, vetaria o acesso de menores desacompanhados de pais ou dos responsáveis, que teriam que se apresentar também no ato da compra dos ingressos – a determinação valeria também para espetáculos culturais.

O projeto está em análise na Comissão de Constituição, Legislação e Justiça, presidida pelo ex-dirigente do Náutico, André Campos. Passando, seguirá a votação no plenário. O governador do Estado, Eduardo Campos, pode ainda vetá-lo.

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Ainda no Pernambuco, na edição do último fim de semana do Jornal do Commercio, em matéria assinada por João de Andrade Neto e Carlyle Paes Barreto, intitulada 'A impunidade gera a violência', depoimento prestado pelo juiz Aílton Alfredo de Souza, responsável pelo Jetep (Juizado Especial do Torcedor) relata: a legislação penal praticamente anula a possibilidade de prisão desses indivíduos - em alusão aos integrantes de torcidas organizadas...

"O primeiro trunfo dos maus torcedores é o fato da maioria das ocorrências registradas em dias de jogo ser apontada pela Justiça como crimes de menor potencial ofensivo. Ou seja, os baderneiros continuam como réus primários já que em sua maioria aceitam realizar transações penais, cumprindo penas alternativas como prestação de serviços comunitários e participação em cursos de cidadania nos horários dos jogos dentro de um período de três meses a um ano. Caso não cumpra com o acordo, o infrator terá que responder a processo criminal comum, cujas penas, em maioria, são as mesmas. Prisão? Só em uma terceira reincidência.

Outro fator que alimenta a impunidade é a falha no controle sobre os que são impedidos de frequentar os estádios. Caso eles não compareçam aos cursos de cidadania ou à prestação de serviços comunitários no momento dos jogos, terão que se justificar à Justiça, que enviará uma intimação à casa deles. Mas, em alguns casos, a carta não chega ao destino, pois parte dos julgados pelo Jetep informa um endereço falso. E como não há checagem na entrada dos estádios, eles estão livres para entrar e cometer novos delitos.

'A maioria dos integrantes das organizadas vai aos jogos sem identificação e informa endereços inexistentes', confirmou um torcedor de organizada que pediu para ficar no anonimato. 'Quando acontece isso, mandamos um ofício ao Tribunal Regional Eleitoral para que ele informe o domicílio eleitoral do torcedor. Mas isso leva tempo', explicou Aílton Alfredo.

O Jetep não soube informar o total de transações penais realizadas desde a sua criação, em 2006, e nem quantos torcedores cumpriram à risca a pena.

Outro reforço à impunidade é lembrado pelo delegado João Gaspar, responsável pela atuação da Polícia Civil na maioria das partidas no Recife. 'Nem todos os detidos vão para o Jetep já que não há provas para incriminá-los. Com isso, acabam liberados', revela.

terça-feira, 3 de março de 2009

Torcedor foi torturado na Bahia

Nesta terça-feira conhecemos mais detalhes da barbárie promovida pela PM da Bahia no estádio do Madre de Deus no domingo (ver post abaixo). O depoimento de uma vítima revela o uso de uma prática bem comum na ditadura, que a Folha de S.Paulo chama de “ditabranda”.

“Os policiais me levaram para uma sala e continuaram a me bater, apesar de eu ter desmaiado. Quando eu acordei recebi uma porrada na barriga e desmaiei novamente. Foi muito forte. Só acordei quando a SAMU chegou”.

A declaração é do mecânico e torcedor do Fluminense de Feira de Santana Welton Ribeiro, de 32 anos. Um dos torcedores agredidos pelos PMs, Welton ainda não pôde voltar ao trabalho devido aos ferimentos que sofreu.

Ao jornal Bahia Meio Dia, ele disse ainda que muitos torcedores que filmaram a violência foram espancados e tiveram seus celulares levados pelos policiais.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Mais um domingo sangrento no futebol brasileiro

Escrevi recentemente que o último dia 15 de fevereiro havia sido um dos dias mais tristes na história do futebol brasileiro. Confusão com tiroteio no Maracanã, morte de torcedor a tiro por rival em Belo Horizonte e brigas entre torcedores e policiais que deixou mais de 40 feridos em São Paulo. Fatos que nos motivaram a iniciar a campanha “Paz nos Estádios – Blogueiros Unidos em Busca de Justiça”, que luta pela aprovação de um marco legal que previna e puna com rigor a violência nos estádios.

Infelizmente demorou pouco para termos um domingo tão triste quanto aquele no nosso futebol. Os fatos descritos abaixo mostram que a violência no futebol é um problema nacional, não só restrito aos grandes centros urbanos e do esporte e apontam para a necessidade de autoridades adotarem urgentemente as medidas cabíveis para tentar solucionar o problema. Recomendo entrevista com a socióloga Heloisa Reis no post abaixo.

Na cidade baiana de Madre de Deus, no jogo entre o time da casa e o Fluminense de Feira de Santana a Polícia Militar da Bahia mostrou todo o seu despreparo. Repare neste vídeo como o PM saca a arma sem necessidade e aponta para os torcedores. Em seguida outro metido a Charles Bronson, mas que não é policial, também ameaça atirar. Na confusão, um torcedor cai da arquibancada e, no chão, é agredido covardemente por outro PM até ser levado desacordado do estádio.



Por sorte, houve três feridos, mas nenhum de maneira grave. Marcos Antônio de Oliveira, o homem que apanhou dos policiais quando estava no chão, deveria fazer exames neurológicos por orientação médica, mas se recusou, assinou um termo de compromisso e foi liberado sem a avaliação. As conseqüências poderiam ter sido muito piores pelas circunstâncias.

Na manhã desta segunda-feira, a Polícia Militar da Bahia afastou os responsáveis pelas agressões de suas funções até as investigações sobre o caso serem finalizadas. O homem sem farda que aparece no vídeo com uma arma na mão e ameaçando torcedores não foi identificado. Impressionante, o Brasil inteiro vê a cara do sujeito e ele não é identificado em Madre de Deus.

Outro caso de covardia marcou negativamente o domingo que era pra ser só um dia de decisões de turnos de estaduais pelo Brasil.

Após o jogo entre Confiança e América no estádio Batistão, em Aracaju, um torcedor do Confiança identificado apenas por Jeferson foi espancado, apedrejado e morto por 15 torcedores rivais.

De todos os suspeitos, apenas dois foram detidos pela equipe da Polícia de Choque e encaminhados para a Delegacia Plantonista. Segundo o sargento Claudenilson Oliveira, os agressores fariam parte da torcida organizada “Força Jovem”. Só que ele fala também que quem disse que eles fariam parte dessa organizada foram membros da organizada rival, a "Trovão Azul". Prefiro esperar uma investigação melhor, né. Veja mais detalhes aqui.

Em Osasco, na Grande São Paulo, um policial militar atirou em um torcedor após uma discussão durante uma partida de futebol. O PM confessou o crime e disse que atirou porque se sentiu acuado. Ele foi preso. Ainda não há informações sobre o estado da vítima.

Três casos de terror. E era só pra ser mais um domingo de futebol.

domingo, 1 de março de 2009

Socióloga Heloisa Reis defende lei específica e polícia especializada para conter violência em estádios

Em entrevista exclusiva à Casa do Torcedor, a socióloga Heloisa Reis enumera uma série de medidas que deveriam ser tomadas pelas autoridades para diminuir a violência no futebol, entre elas a aprovação de uma legislação específica e a formação de policiais especializados em prevenção de confusões em eventos de massa.

A socióloga ainda classifica como uma “estupidez” as propostas de extinção das torcidas organizadas e responsabiliza dirigentes e imprensa por conflitos em estádios.

Professora da Faculdade de Educação Física da Unicamp, Heloisa Reis coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas de Futebol da universidade de Campinas. Também já coordenou a pesquisa “A caracterização do torcedor organizado de São Paulo”. É uma das maiores autoridades do país sobre violência no futebol e não pode deixar de ser ouvida pelas autoridades antes de qualquer decisão do governo para o problema.

Qual o melhor caminho para acabarmos com a violência entre torcidas? Que medidas devem ser tomadas pelas autoridades?

Por ser um problema extrínseco ao esporte, complexo e multifatorial, é muito difícil acabarmos com a violência entre torcidas. Apesar da dificuldade de acabarmos com a violência nos estádios, uma série de medidas poderiam ser tomadas para que...

1. As autoridades governamentais responsáveis pela Consegue – Comissão Nacional para a Segurança e a prevenção da violência nos espetáculos esportivos – nomeiem um grupo capacitado para geri-la, além de dar suporte para o trabalho da mesma.
2. Apoiar as pesquisas sobre o tema, tanto às acadêmicas quanto as policiais. Investir em treinamento e equipamentos para a formação de policias especializados na prevenção da violência em eventos de massa.
3. Incentivar e sensibilizar os deputados e senadores na aprovação de uma lei específica para atos de violência em eventos esportivos.
4. Fiscalizar o cumprimento do Estatuto do Torcedor. Apoiar e sensibilizar o Congresso Nacional na aprovação do novo projeto de lei que propõe alterações para o Estatuto do Torcedor.
5. Acabar com a impunidade.
6. Punir os dirigentes, técnicos, jogadores, policiais, jornalistas e espectadores que provocarem (vierem a provocar) tumulto ou derem declarações à imprensa que possa incentivar a violência e a rivalidade entre os espectadores (torcedores).
7. Coibir os excessos dos agentes de segurança pública com constante avaliação de suas atuações.
8. Abrir um canal de denúncias anônimas sobre os abusos cometidos por policiais em eventos esportivos.
9. Criação de comissões estaduais de prevenção da violência em espetáculos esportivos em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul – estados que apresentam maiores problemas dessa natureza.

Desigualdade e injustiças sociais, que são causas da violência em geral no Brasil, têm relação com as brigas em estádios?
Podemos dizer que estas são as causas estruturais da violência que ocorre nos dias de jogos de futebol.

Muitas pessoas acreditam que a extinção das torcidas organizadas resolveria esses problemas. Qual sua opinião sobre isso?
Este é um tremendo equívoco gerado historicamente no Brasil pelo desconhecimento do problema da violência em dias de jogos e por averiguações superficiais da presença de sócios de torcidas organizadas ou até por uma suposição desta participação, criou-se o mito do vinculo da violência com as torcidas organizadas apenas. O que é um grande equívoco e uma maneira de não debater e compreender o problema. E consequentemente não resolvê-lo. Todos os países que enfrentaram seriamente o problema recorreram aos estudos acadêmicos e policiais para compreendê-lo e elaboraram políticas públicas subsidiadas nestes estudos.
A proposição da extinção das torcidas organizadas é uma estupidez. E poderíamos dizer que é uma solução inadequada para um problema sério e de segurança pública. Seria o mesmo que propor o fechamento do Congresso Nacional por suposição da existência de políticos corruptos. Não se resolverá esse problema fechando organizações sociais juvenis pelo fato de suporem serem estes os responsáveis pela violência em dias de jovens. Em uma sociedade democrática a livre associação é um direito dos cidadãos, ainda mais em uma sociedade desprovida de projetos para a juventude é legítimo a organização de jovens para desfrutar de um tempo de lazer prazeroso. O que ocorre no Brasil é que a pouca seriedade das autoridades no trato da questão suscita sempre em um primeiro momento decisões arbitrárias e autoritárias da simples extinção delas.

Você acredita que imprensa e dirigentes também têm responsabilidade pela violência no futebol, ao incitarem a rivalidade?
Sem dúvidas. Nos países que resolveram o problema da violência em dias de jogos eles criaram leis responsabilizando imprensa e dirigentes em casos que estes façam declarações ou comentam atos indevidos e incitadores de violência.